Concedida ao Diário da Região – São José do Rio Preto – SP
Renata Fernandes: A paixão é um sentimento fantástico e devastador. Existe alguma explicação para ele?
Luiz Cuschnir: Há tantas explicações quanto as oportunidades que se dá ao longo da vida para elas ocorrerem quando se está disponível para elas. Quanto mais disponível para o amor, para o envolvimento, para se conhecer alguém que possa ser uma parceria amorosa, pode ocorrer uma paixão. Quanto mais fechada está a pessoa, mais introvertida, desconfiada ou desiludida desse tipo de envolvimento, mais ela tem pré-conceitos de que não vale a pena, que não existe motivos para se envolver, nem que exista alguém que vale cofiar e aí não ocorre.
Renata Fernandes: As pessoas apaixonadas se percebem plenas e parece até que a imunidade, disposição física e tolerância aumentam. Por quê?
Luiz Cuschnir: É verdade que apaixonadas as pessoas se percebem mais animadas, muitas sensações boas acompanham esses momentos, que até repercutem em uma melhor disposição física. Parece que um estado de humor se instala que aumenta a tolerância e diminui a irritabilidade, muito parecido com um distanciamento de um estado depressivo, onde tudo é incômodo, há mau humor e um desalento no dia-a-dia. A visão da vida, as perspectivas se abrem para novos momentos, a confiança de ter um relacionamento afetivo prezeiroso, a possibilidde de planejar o que vem pela frente na vida podem ser muito estimulantes e aí estimularem esses aspectos benéficos para a qualidade de vida de quem está apaixonado.
Renata Fernandes: O que significa a paixão? Quais são os benefícios e malefícios que podem trazer ao ser humano?
Luiz Cuschnir: É deixar de controlar o se entregar afetivamente para o outro, se envolver sem tantos limites e confiar no que está acontecendo entre si e a outra pessoa como uma possibilidade de completude amorosa. Como benefício é se dar uma chance de sentir ao máximo a sensação do amor pelo outro. Como malefício é a pessoa se perder nesta relação e esquecer os próprios parâmetros.
Renata Fernandes: Ela também faz adoecer não faz?
Luiz Cuschnir: Tratei neste último livro “Os Bastidores do Amor” – Os sentimentos e as buscas que invadem nossos relacionamentos (ed. Alegro), de várias situações que indicam os caminhos para esse adoecimento. Ele pode ocorrer tanto do ponto de vista psíquico como medos, fobias, depressões, como até doenças físicas que vão contaminando a rotina e atividade diária do indivíduo, aparecendo os desajustes do próprio organismo.
Renata Fernandes: Por que as paixões mais difíceis e ao mesmo tempo as mais “gostosas” são as proibidas?
Luiz Cuschnir: Quando isso ocorre mostra que se está ultrapassando o próprio limite, as limitações que se achava que tinha, conscientes ou não. Essas limitações poderiam estar relacionadas com idéias que se tinha que nunca se iria conseguir conquistar alguém como essa pessoa, por certas características, ou em situações semelhantes, como detreminadas simbologias, e aí se conseguiu. Muitos conteúdos aparecem nesse tipo de “proibições” de demonstram como a pessoa estaria ultrapassando algo tão difícil.
Renata Fernandes: As pessoas deve se entregar totalmente a uma paixão?
Luiz Cuschnir: Sempre aponto o caminho da adequação como uma necessidade básica das pessoas se preservarem de situações autodestrutivas que são um risco para elas. Um abalisamento adequado da possibilidade de se perderem nessa paixão, podendo não encontrarem o “caminho de volta” pode trazer danos irreparáveis.
Renata Fernandes: As mulheres se apaixonam mais do que os homens?
Luiz Cuschnir: Não podemos dar essa afirmação pois depende muito de como cada um se controla, ou tem um perfil mais ou menos racional. Encontro homens que quase se dilaceram emocionalmente por uma mulher, e até depois por outra nem sentem tanta paixão. Há mulheres que inisitem em envolvimentos muito intensos, repetindo um padrão de envolvimento apaixonado por todos com quem se envolvem. Mas não se pode dizer que sempre homens são assim e mulheres desse outro jeito.
Renata Fernandes: Por que é tão difícil se manter apaixonado?
Luiz Cuschnir: Paixão tem a ver com conquista, com o desconhecido também. Muitas vezes a rotina, a multiplicidade de atividades, o excesso de estímulos modificam os interesses e aí a paixão se desloca para outro aspecto da vida. Pode dar lugar a um amor mais suave e amistoso, o pode mudar de rumo e ir para outro relacionamento.
Renata Fernandes: Como evitar que a paixão faça as pessoas perderem a cabeça?
Luiz Cuschnir: Perder a cabeça é se perder de si mesmo, da própria identidade. Sabe-se que é mais comum ocorre quanto mais jovem é a pessoa. Isso faz associar paixão com imaturidade. Pessoas com pouca experiência de vida, muito reprimidas, que se contém muito ao longo da vida, mesmo que já sejam mais adultas, podem estar guardando muito aspectos afetivos e amorosos que aparecem abruptamente, tornando-as muito vulneráveis a se apaixonar. Portanto a maturidade é a única possibilidade de permanecerem centradas no que são verdadeiramente.
Renata Fernandes: O que acontece com o corpo quando se está apaixonado?
Luiz Cuschnir: Taquicardia, aumento da libido, raciocínio alterado para mais ou menos, pode aparecer alterações do sono, do apetite, dificuldades de concentração e atenção. Em geral um melhor disposição física e alteração nos relacionamentos mais íntimos familiares.