UOL Ciência – 3/11/2011 – Chris Bueno
Ser o segundo na hierarquia às vezes é mais vantajoso
Ser um “alfa”, ou seja, o líder da matilha, nem sempre é sinônimo de sucesso – nem no trabalho, nem na vida amorosa. Às vezes, a habilidade de trabalhar em equipe é mais valorizada por empresas do que a habilidade de liderar. Além disso, o sucesso vai depender no comprometimento, da dedicação e da capacidade de solucionar problemas e enfrentar desafios. “Relacionar sucesso profissional e amoroso à conduta alfa é relativo, depende da função e do contexto”.
Betas gostam de participar da ação, sem precisar ficar em evidência, e não têm medo de mostrar suas emoções, ou de dizer que não sabem ou não conseguem realizar uma tarefa sozinhos. Por essas características, os betas acabam muitas vezes sendo preferidos no mercado de trabalho, pois valorizam muito a equipe e sabem delegar tarefas. Também são preferidos por mulheres que buscam um companheiro mais sensível, pois não sentem sua masculinidade ameaçada por demonstrar características que antes eram tidas como unicamente femininas.
“O homem beta utiliza a sua força na hora certa, mas está envolvido em participar com a mulher dos seus afazeres, não se importando com uma divisão de tarefas, mas privilegiando o convívio e tempo juntos”, explica o psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir. O inverso também é verdade: muitos homens preferem uma mulher beta do que uma alfa dominadora.
Estresse
Mas não é só nisso que os betas levam vantagem. Eles também geralmente sofrem menos com o estresse do que os alfa. De acordo com uma pesquisa feita por Laurence Gesquiere, da Universidade Princeton (EUA), os indivíduos alfa apresentam um alto nível de estresse. O pesquisador e sua equipe mediram os hormônios do estresse em centenas de babuínos em seu ambiente natural.
O estudo verificou que os babuínos alfa tinham o mesmo nível de estresse dos ômega (aqueles que estão na rabeira da hierarquia social e, por isso, muitas vezes apanham dos líderes). Isso provavelmente acontece porque eles precisam lidar o tempo todo com desafios à sua autoridade e com acasalamentos constantes com as fêmeas do grupo. Já os babuínos beta, que não têm que ficar cuidando do grupo e se afirmando o tempo todo como os alfa, nem apanhando e sendo excluídos como os ômega, apresentavam o menor nível de estresse.
Últimos da fila
Talvez a posição mais difícil de se ocupar seja a ômega. Na zoologia, os indivíduos ômega são os últimos da fila, aqueles que têm que esperar o alfa e o beta escolherem a comida, a parceira (ou o parceiro) e um lugar para se acomodar para então ficarem com o que sobrou. Um homem ou uma mulher ômega seriam, então, indivíduos mais dependentes, submissos e sensíveis. Mulheres ômega são aquelas que gostam de depender do seu parceiro e se sentir protegidas por ele, e odeiam ter que tomar a dianteira, seja em casa ou no trabalho. Homens ômega também preferem parceiras mais determinadas, capazes de tomara decisão por eles, e no trabalho preferem receber a dar ordens.
Indivíduos ômega têm dificuldade em se impor, e muitas vezes acabam sendo vistos como os mais fracos na hierarquia social – o que significa, no mundo animal, a apanhar dos mais fortes e, na sociedade moderna, a sofrer bullying, em muitos casos. Este é um dos motivos porque os ômega também sofrem com altos índices de estresse.
Mudança de comportamento
Mas a condição de alfa, beta ou ômega não é imutável. Tanto na natureza como entre os homens, um indivíduo beta pode desbancar o líder e acabar se tornando alfa, ou então um alfa pode perder sua posição e acabar se tornando ômega. Na natureza isso geralmente é resolvido à força, mas entre os homens existem vários modos de transformação. “Já acompanhei homens que aprenderam um ou outro jeito de ser e puderam aplicar isso numa complementação melhor e atender as necessidades da sua companheira ou do ambiente de trabalho”, afirma Cuschnir.
Um homem ou uma mulher alfa podem decidir se tornarem beta para conseguirem trabalhar melhor em equipe ou serem mais sensíveis e colaboradores com seus parceiros. Ou então um homem ou mulher ômega podem aprender a ser mais independentes e determinados para ocupar a posição de alfa. A mudança não é fácil, mas é possível, desde que se tenha empenho e dedicação, e também consciência de seus objetivos e de seus limites. “Isso demanda um trabalho de empenho e disposição de se perceber e se aceitar que precisam ser mais flexíveis e perceptíveis, ou mais determinados”, aponta.