Uol Comportamento – Jornalista Thais Carvalho Diniz
Entrevista concedida 24/07/2014
Uol – Por que a ideia de felicidade está sempre ligada a um relacionamento amoroso?
Luiz Cuschnir – A relação a dois completa um ciclo da vida que vai do nascimento, crescimento e desenvolvimento do indivíduo para chegar numa fase mais madura e criar um vínculo com outra pessoa. É claro que há diversas possibilidades de se formar este vínculo e que ele possa completar este percurso mas estou dando esse caminho mais geral para juntar essas duas instâncias: felicidade e relacionamento amoroso. Felicidade é um termo usado para denominar um estado especial onde se quer chegar mas acredito mais que esta consegue ser atingida em determinados momentos de vida e não uma concepção que se apropria e torna-se condição de vida. Quero dizer que uma pessoa tem momentos onde pode experiencia-la mas não te-la como condição constante e estabelecida. O relacionamento amoroso, com as suas vicissitudes, interfere bastante nessa condição. Altos e baixos fazem parte da construção de um vínculo afetivo mais duradouro, e assim momentos muito felizes podem interromper esse estado dando a nuance que é mais natural, quando se estabelece dentro de uma rotina do dia a dia dos indivíduos.
Agora, como o amor muitas vezes implica em uma sensação de totalidade, de preenchimento de um sentido de vida, completa a pessoa em uma troca vivencial que é difícil se igualar com qualquer outra conquista que pode-se ter em outras esferas. É uma instância virtual, não concreta, algo mais profundo e nada visível, mas que dá uma dimensão de capacidade e aí de completude no desenvolvimento vital. Tem tudo a ver com o amadurecimento emocional e provoca essa sensação de felicidade.
A noção mais religiosa é que um completa o outro na medida que foram separados na criação Divina e o homem e a mulher se juntam novamente para um ser único.
Uol – Por que temos sempre a impressão de que por mais que uma pessoa seja bem sucedida no trabalho, tenha família e amigos, se ela não tem um parceiro não é feliz? É possível ser feliz sozinho?
Luiz Cuschnir – Sem dúvida é possível ser sozinho, sem parceiro, assim como sem filhos que também tem a mesma crença. A noção de uma sociedade gregária, tendo pessoas para se relacionar, que podem substituir uma família hoje tem um espaço na medida que as atividades que alguém se dedica ou a vida social que o acompanha, podem preencher a pessoa. Mas o que pode acontecer é que a falta de estímulo de convívio constante, que ocorre principalmente quando se tem um parceiro amoroso, pode ajudar a se afastar, se isolar, principalmente para pessoas com tendências a introversão ou timidez. O que também é comum, pessoas em determinadas fases de vida, sentem-se muito bem sozinhas, seja por estarem envolvidas em projetos pessoais muito gratificantes, seja por terem recém saído de relações sufocantes e sofridas.
Uol – O que as pessoas sozinhas precisam buscar para serem felizes? É possível falar sobre solteiros, solteiros convictos, viúvas e viúvos e etc?
Luiz Cuschnir – Um dos aspectos mais comuns nas sessões de psicoterapia são os pacientes insatisfeitos com os vínculos afetivos que as pessoas estão envolvidas ou nas relações que não conseguem encontrar ou estabelecer. Sentem-se vazias e frustradas, às vezes sem uma opção de resolver diretamente esse assunto. Sem dúvidas, projetos pessoais podem preencher bastante e desviarem a atenção para o fato de não terem a companhia que gostariam. Outros que realmente nem desejam ter alguém com uma relação tão próxima, devem buscar atividades, sejam sociais, intelectuais ou artísticas que darão sentido à vida delas. Qualquer processo de aprendizado, que não seja repetir o que já sabem e têm rotinas intocáveis, sempre estarão sujeitas a se acomodarem e tornarem suas vidas desinteressantes. Cada um deve procurar qual é o seu caminho que possa satisfaze-las no processo de desenvolvimento constante como ser humano.