Conversando com Dr. Luiz Cuschnir – Glorinha Cohen
PERGUNTA Dr. Luiz, estou a ponto de me separar de um casamento de 18 anos. Temos dois filhos que estão se encaminhando regularmente e acho que tudo vai dar certo com eles. Mas minha esposa não se propõe a fazer nada que contribua comigo e com a família como um todo para termos melhores condições de vida. Não trabalha, é desregrada, tem uma série de vícios e atitudes que só a enfraquece e desvaloriza. O que leva uma mulher à inércia de dar desculpas pelo que ela não realiza, como se nada pudesse ser feito?
RESPOSTA Os traços de caráter e da personalidade, associados a situações de vida que a impedem da possibilidade de resolução, com uma baixa auto-estima proveniente de situações anteriores, oferecem condições para se instalar essa maneira de levar a vida, vivendo repetidamente a impossibilidade de resolução de conflitos. Num dos workshop que realizei do Gender Group no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, propiciei a busca do histórico de cada um como homem e como mulher, incluindo numa etapa seguinte onde se sentiam com o Poder e depois lidarem com ele para propiciar mudanças de atitudes e recursos para a seqüência da vida de cada um. A pessoa transfere para outras e para circunstâncias o que é de responsabilidade absoluta dela mesma. Tendem à dependência dos outros. Trata-se de uma característica da personalidade que não se transformou ao longo do seu crescimento e evolução, permanecendo numa atitude infantil. Estou falando de simplesmente transferir e não de culpar os outros por não ter conseguido algo. Mas há pessoas que estão nessa situação por sobrecarga de responsabilidades que assumiram ou foram a ela delegadas e não conseguem dar conta disso. Não é incomum que chega ao meu consultório particular, pessoas que vêem inicialmente colocando a culpa em tudo e em alguém. Com o tempo chegamos durante o processo das suas sessões individuais, às suas responsabilidades como causadoras das condições que estão imobilizando o seu desenvolvimento. É uma sabotagem do seu potencial essa postura de não assumir e ver o problema crescendo, paralisada, sem fazer nada e também agir assim só para dizer que é vítima das circunstâncias. Ela pode até conhecer o problema a ser equacionado, mas ela pode estar “ocupada” com outros tantos, até inaparentes como os psicológicos, onde traumas ainda ocupam áreas energéticas impedindo a resolução de algo que para quem vê, é simples. A sabotagem vem ao se colocar como vítima também. Há traços específicos de personalidade onde a culpa é sempre do outro ou da vida, e ela demonstra que não tem as condições necessárias para resolver o que está sendo-lhe indicado. O papel de vítima também demonstra a inabilidade que tem e pode criar um vício de conduta e nem perceber mais o que faz consigo mesma.