Artigo Inédito – Luiz Cuschnir
As mulheres estão felizes? Tudo que é feito só em função do marido, que não tenha uma repercussão de verdade, sincera, de alma da mulher, é como uma bomba relógio: um dia explode e atinge o que estiver a sua volta.
A mulher que se dedica as tarefas domésticas somente, colocando uma carreira ou interesses pessoais de lado pode ter um casamento mais feliz, mais harmonioso. Mas não se pode afirmar que uma opção como essa, na vida de uma mulher, pode levar a um casamento feliz ou harmonioso. é possível que nos primeiros anos de um casamento, de companheiros jovens, onde é mais comum ocorrer a fase reprodutiva da mulher, até esta opção a permite se dedicar mais exclusivamente ao acompanhamento dos primeiros anos dos filhos, e assim uma possível harmonia interior dela mesma e um reflexo disso no casal. Há de se ressaltar que deve ser uma opção bem específica dela, e não uma repressão do marido ou uma pressão social. Já tarefas domésticas somente, sendo essa a opção de vida de uma mulher, sem a presença de filhos, estamos diante de situações muito especiais e questionáveis quanto a validade do próprio casamento, quanto mais a certeza de que assim esse casamento dará certo. Carreira e/ou interesses pessoais tendem a alimentar a identidade feminina, e sem alimento a mulher não consegue suprir a relação conjugal.
Já atendi e acompanhei tanto processos que puderam ser revertidos como outros que chegaram a tal sensação de desvalorização da mulher que as levaram a diferentes patologias físicas ou psíquicas. Tudo que é feito só em função do marido, que não tenha uma repercussão de verdade, sincera, de alma da mulher, é como uma bomba relógio: um dia explode e atinge o que estiver a sua volta. Não é incomum o casamento não supotar o peso e a cobrança de uma mulher infeliz, mas isso também não pressupõe que ela seja obrigada a trabalhar. Ela é que deve saber se e quando deverá fazer isso. Agora, colocar de lado interesses pessoais, é sempre um perigo para a harmonia do casal.
– A chave para conciliar todos os lados da vida é o respeito consigo própria, sem vitimização nem autoagressão. Tudo que for feito somente para agradar o companheiro, será cobrado de uma forma ou outra. A mulher precisa se completar, desenvolver todos os seus potenciais concomitantemente se possível, senão pelo menos ao longo da sua vida. Quando ela faz consegue isso, vai se completando e chegando ao que chamamos de sua essência como um Ser. Atinge a sua essência feminina, sem sofrimento e tomando conta da sua alma de uma mulher.
De uma maneira geral o homem não estaria feliz e nem espera que a mulher volte e só resgate o seu instinto “dona-de-casa”, mãe e esposa. O que está satisfazendo muito os homens hoje em dia, é vê-la resgatando seus aspectos ligados ao aconchego e atenção ao ambiente doméstico e familiar. Percebem que ganharam muito em poderem se apossar do “espaço-casa” e do lugar da paternidade. Como o caminho agora é o da diferenciação do masculino e do feminino, e não mais da nivelação dos dois que se pautava só nos direitos e deveres de cada um, ele é recolocado e redimensionado como homem, sem disfarces nem máscaras: ele tem que ser um homem mais ampliado nas emoções e sentimentos, e complementar uma mulher que atinge a sua plenitude tanto fora como dentro do vínculo com ele.
Elas sofrem com a divisão de sentimentos entre casa e mercado de trabalho. É muito… Por mais que a sociedade se mostre permissiva para elas enfrentarem o mercado de trabalho, aceitando-as simplesmente ou exigindo delas muito e perversamente, ainda se espera que a mulher cumpra principalmente a maternidade sem deslises. Em consonância a isso vem o seu mundo interno dos sentimentos com ressalvas. A mulher não “deve” demontrar e existe a exigência de darem conta, e muito bem, do andamento da casa. é esperado delas que consigam executar equilibramente tudo isso. O sofrimento íntimo da mulher é muito maior do que as suas constantes queixas de que está sobrecarregada com uma 2ª ou 3ª jornada de trabalho. Isso também vai aparecendo com o passar do tempo da vida dela, e mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou outra denuncia a si própria uma sensação de fracasso e de uma luta inglória para se sentir melhor consigo mesma.
É esperado que conquistem e ultrapassem fronteiras fechadas, e depois conciliem com o retorno a volta ao Lar, sua casa, seu mundo. é nessa conciliação com o que precisaram para serem reconhecidas e respeitadas em seus potenciais, suas lutas para conquistarem suas posições na conquista do mercado de trabalho, agora procuram o aconchego do lar e da família. Podem querer também resgatar seus aspectos femininos que encontram aí. Se dão o direito e exigem o respeito para serem quem são, como podem ser, em sua identidade mais ampliada, completas agora com o reconhecimento em todos os âmbitos. A sociedade aprende, e a mulher ensina que há lugar para a realização externa e interna como ser humano.