Portal Uol – Jornalista Louirse Vernier
Entrevista Concedida – 16/01/2015
Portal Uol – Qual é a melhor forma de colocar um ponto final numa relação que já chegou ao fim? Como terminar bem um relacionamento, minimizando mágoas?
Luiz Cuschnir – Primeiro lembrar que o tempo que estiveram juntos teve uma importância para os dois. Nada que se fizer vai recuperar esse tempo e valorizá-lo é tão importante como avalia-lo para a sequência da vida. Uma boa terapia vai ajudar muito, inclusive para preparar e prevenir reincidências inadequadas.
Portal Uol – Terminar a relação pessoalmente é realmente mais indicado ou isso depende de casal para casal? Por quê?
Luiz Cuschnir – Não dá para se dizer que é o mais indicado pois o que será dito e mostrado pessoalmente nem sempre é o melhor. Pode ser se houver possibilidade de entendimento mútuo, tranquilidade para uma conversa que seja construtiva e um diálogo que os dois se sentirão melhor. Se o clima for de agressividade pode trazer muitos problemas.
Portal Uol – É importante uma última conversa para expor o motivo do término e promover a troca de argumentos ou, para evitar/minimizar atritos, o ideal é apenas expor o desejo de terminar sem mais explicações? Por quê?
Luiz Cuschnir – Se houver esta última conversa, independentemente de ser presencial, a amplitude da exposição deve ser avaliada. Como a chance de não se encontrarem mais é grande, os esclarecimentos do que é falado podem não ocorrer propiciando distorções e mal entendimentos que criam uma série complicações. A medida deverá ser bem analisada. Nem sempre a outra pessoa pode realmente saber a verdade. Por outro lado, algumas explicações sempre podem orientar quem as recebe e ao mesmo tempo permite alguma elaboração mais do que simplesmente o sumiço do outro.
Portal Uol – Durante o término, é interessante expor o que foi bom no relacionamento e as qualidades do ex-parceiro para amenizar o clima e a dor de ambos? Por quê?
Luiz Cuschnir – Sem dúvida apontar o que foi bom e as qualidades do parceiro é um bom jeito de deixar o positivo, desde que seja na medida certa para que o outro. Essa medida está em relação ao que o outro pode aceitar para aprender alguma coisa do que ocorreu. Se a atitude for de alguém com essa disposição para aprender algo sobre o relacionamento, sem dúvida quanto mais clara a exposição, mais ela sai ganhando. Mas o comum é que as pessoas estão se defendendo e pouco dispostas a ouvir e mais a atacar e culpar o outro.
Portal Uol – Quando o ex-parceiro fez algo que contribuiu para o fim do relacionamento, é válido que a pessoa que está terminando aborde esses erros? Ou, para evitar mágoas, é melhor colocar uma pedra no assunto?
Luiz Cuschnir – Isso depende da sensibilidade de cada um. Se esse ex ainda insiste em continuar, pode ser interessante mostrar o que ocorreu para avaliar se há alguma possibilidade de mudança por parte dele(a). Também é válido para deixar claro a incompatibilidade como limite claro sem necessariamente culpabilizar o outro.
Portal Uol – Qual a importância, para ambos, de ouvir o que o outro tem a dizer? Por quê?
Luiz Cuschnir – Ouvir é uma arte, às vezes mais rica que falar. O interesse em saber o que está levando a esse término é uma atitude de pesquisa que sempre leva a se aprender algo. Muitas vezes o tempo de ouvir se esgota muito rapidamente em pessoas ansiosas, agressivas ou enrijecidas onde o impulso de contra argumentar surge impedindo que o outro diga o que tem a dizer.
Portal Uol – O que não deve ser dito na hora de terminar o relacionamento? Por quê?
Luiz Cuschnir – Não adianta falar o que o outro não tem a mínima condição de mudar como filhos, família em geral, situação social, características físicas ou fisiológicas. Torturar o outro por algo que é imutável ou demandaria uma transformação brutal, deixa marcas que podem causar impedimentos na vida do outro. A baixa autoestima nunca é boa para se deixar de presente para quem se quer ajudar a crescer.
Portal Uol – Há um momento mais apropriado para terminar o relacionamento? Como saber qual o momento ideal? Há locais mais apropriados para ter essa conversa? Por quê? E de que maneira tomar esses cuidados pode minimizar as chances de mágoas entre o ex-casal?
Luiz Cuschnir – Eu diria amplamente que o momento neutro e um ambiente relaxado propiciaram uma boa conversa. Nem sempre para se terminar consegue-se isso. Podem ser levados assuntos que são explosivos e criam com facilidade agressões, mútuas ou de uma das partes. Se o momento não for estressante ou altamente significativo, há chances de que se consiga uma exposição das intenções de rompimento e dê tempo para o outro se organizar melhor. Cada casal tem suas particularidades. Para alguns nas refeições eles tem boas conversas, outros na cama e outros fora de casa em um lugar diferente do dia a dia.
Portal Uol – Em contrapartida, há locais/situações inapropriadas para terminar um relacionamento, com o trabalho ou durante uma viagem? Por quê?
Luiz cuschnir – O trabalho é um ambiente que os papéis profissionais devem ser priorizados. Uma relação amorosa não deve interferir nesse papel a esse ponto pois é uma invasão por si só. Em uma viagem fica difícil a sequência dos dias, deixando os dois em uma situação delicada quando não desconcertada por não dar chance a uma solução mais confortável. Mas em alguns casos, o momento de viagem é justamente quando os dois estão disponíveis para fazerem uma boa elaboração do que estão passando. Pode até ser útil para dar chance para estruturarem uma relação mais amistosa ao invés de uma separação brusca.
Portal Uol – Dizem que, geralmente, quem “toma o fora” sempre sofre mais. Mas ser culpado pela dor do outro também não é fácil. Como lidar com esse sentimento?
Luiz Cuschnir – Atendo muitas pessoas que sentem essa culpa de precisarem terminar um relacionamento e adiam ao máximo isso. Não querem ferir o outro, expor seus desejos que vão ferir pois nem sempre o terminar um relacionamento é um término do amor. Ele pode ter-se transformado e o motivo de estarem juntos não é mais para uma relação amorosa. Por isso não significa que há desamor e o outro pode se sentir rejeitado não aceitando que há essa outra possibilidade para a relação dos dois. Fora isso muitas vezes o projeto dessa relação é maior do que a possibilidade de uma sentir esse amor pelo outro. A perda para esse que “toma o fora” é a perda do projeto, que pode ser devastadora. É muito comum nos meus atendimentos de homens ocorrerem essa sensação de sentirem-se uns monstros se terminarem uma relação. Por um lado isso protege o outo mas deteriora muito a qualidade do relacionamento. Dó não é uma boa parceira do amor.
Portal Uol – Focar na decisão e ter em mente que o relacionamento já não tinha mais solução é uma saída para afastar a culpa? Por quê?
Luiz Cuschnir – Perceber que estar em um relacionamento desses é tanto auto destrutivo como agressivo em geral é um bom caminho para a elaboração dessa saída. A maior liberdade que uma pessoa tem é a de poder ficar ou não. Se ela se dá essa liberdade, ela está sendo também respeitada pelo outro. Se esse outro não respeita isso, já é uma maneira de ver que não há somente um vilão na história. Também entender que tratar o outro com dó não dignifica ninguém, pode ser uma ato de respeito ser sincero e se posicionar em relação a isso. Trabalho muito isso com todos os meus pacientes do consultório.
Portal Uol – Após o término, o casal deve/precisa/pode manter a amizade ou o ideal é que passem um tempo completamente afastados até se recuperarem? Por quê?
Luiz Cuschnir – Tudo depende de que relação estamos falando. Manter amizade depois de um tempo de permanência em um relacionamento agressivo ou destrutivo é masoquismo. Há relações que permaneceram pelo respeito ao outro mas que não tiveram a mesma consideração do outro lado e sim aspectos muito humilhantes. É muito comum familiares, filhos, pais, desfazerem daquela pessoa que por sua vez aguentou em prol de uma construção do vínculo amoroso. Um tempo ou um afastamento total dão chance da pessoa se recuperar e estruturar novamente uma autoestima adequada.
Portal Uol – Esse afastamento também é importante para reforçar a decisão de terminar? Por quê?
Luiz Cuschnir – A decisão de terminar deve ter um tempo suficiente de elaboração dessa proposta. A necessidade de uma afastamento por uma decisão duvidosa já mostra que a elaboração não se completou, ela ainda precisa dessa fase de afastamento para um verificação. Se dar a chance de verificar pode ser interessante mas também levar em conta que uma verificação desse jeito pode trazer consequências negativas. A outra pessoa pode não aceitar o que ouve ou retornar ao relacionamento, inclusive os danos familiares sociais podem afetar uma possível sequência do relacionamento. Por isso a verificação precisa ser muito bem dimensionada.
Portal Uol – Levando em consideração que o objetivo é terminar bem o relacionamento, os dois devem continuar a amizade nas redes sociais? Por quê?
Luiz Cuschnir – Não há regras para isso. Vejo muito o desespero dos que fazem isso. Acompanhar os passos do outro não é o melhor jeito de se organizar emocionalmente para seguir a vida. Há pacientes que adquirem um verdadeiro vício em sabe todos os passos do outros inclusive de todos com quem este se relaciona. Ficam em função disso e não viram a página. Hoje em dia muitas vezes a amizade mantida dessa maneira vira uma policiamento do outro, o que não é a melhor maneira de se ter um amigo.
Portal Uol – Dar um tempo até assumir publicamente um novo relacionamento sério é importante? De quanto tempo estamos falando? Evitar postar fotos e comentários sobre o novo parceiro também é válido? Por quê?
Luiz Cuschnir – A questão do público e privado é muito particular de cada um. Da mesma forma pessoas que dirigem a sua vida para ter assunto sobre o que os outros estão fazendo também. Cada um deve se preservar na medida que não traga benefícios uma exposição de assumir esse novo relacionamento. Expor para agredir só tem sentido se for isso que a pessoa quer. Da mesma forma não se expor poder ser uma maneira da pessoa se constranger e viver escondida também faz mal. Há pessoas que precisam ser assunto dos outros e outras que odeiam que falem dela nas rodas sociais. Tudo depende do lugar que a pessoa quer estar na sociedade.