Revista Marie Claire – Jornalista Carla Castellotti
Entrevista Concedida – 15/12/2014
RMC – Devo alertar minha amiga que ela está namorando um canalha ou não?
Luiz Cuschnir – Primeiro estamos falando dessas duas posições que merecem um dimensionamento bem específico: quanto há de amizade entre as duas e o que está acontecendo para ser esse o melhor jeito de demonstrá-la. Muitas avaliações precisam ser feitas e nem sempre se têm condições de avaliar com um distanciamento necessário para dimensionar cada uma dessas posições.
RMC – Que consequências devo assumir quando coloco uma bomba dessa nas mãos dela? Será que nossa amizade sai fortalecida de uma situação assim ou colocada em risco?
Luiz Cuschnir – Se a amiga aceitar essa notícia como um aviso de uma amiga que cuida, essa amizade está confirmada e aproxima ambas para uma crescente troca. Se por outro lado a amiga não lidar com ela como uma proteção e desconfiar de que há embutido inveja, ciúme, possessividade ou outros sentimentos negativos, tomará como uma invasão e provavelmente se afastará da amiga conselheira. Por isso, a análise das intenções dessa conselheira é vital e muitas vezes ela própria não sabe dimensionar isso. Inveja por exemplo, é algo muito difícil de as pessoas admitirem que têm.
RMC – Será que uma mulher apaixonada está disposta a ouvir algo assim (mesmo que seja de uma amiga em quem confia)?
Luiz Cuschnir – No livro que estou lançando em março sobre o relacionamento homem/mulher vou falar de algo muito básico sobre a função amor. Mostro o quando o amor que cada um tem é real ou uma projeção do que a pessoa precisa. Sendo assim, a disposição de ouvir essa bomba na projeção que faz do relacionamento já está comprometida. O histórico da amizade e todos os momentos anteriores que fortaleceram a amizade entre as duas, vão afetar enormemente está disposição. Amizades recentes ou com pouca intimidade podem reduzir a recepção dessa notícia. Uma outra coisa é o jeito como ela é dada, o local, momento, as palavras…tudo vai influenciar essa aceitação do comunicado.
RMC – Existem muitos casos de mulheres que se colocam contra a amiga (mesmo ela estando falando a verdade). Por que isso acontece? Será que aí caímos naquela questão de que na amizade entre mulheres rola competição?
Luiz Cuschnir – Acho que são duas situações: impossibilidade de se defrontar com a realidade e outra o que comumente encontra-se entre as mulheres. Quem necessita acreditar em algo, mesmo que para uma outra pessoa possa parecer totalmente absurda e incompreensível, provavelmente verá esse fato como uma revelação agressiva a essa crença. Por isso o cuidado em revelá-la necessita de muito tato e uma postura construtiva explícita para não ferir a amiga equivocada. Já a competição entre mulheres pode sim estar presente inclusive concomitantemente a essa declaração com intuito de protegê-la. As mulheres se comparam o tempo todo, pautadas em suas expectativas e necessidades de realização pessoal. Às vezes isso é cruzado, invejam a amiga pelo casamento que tem, mesmo que já tenha vencido a batalha em ter um corpo escultural. O tema relacionamento amoroso é um terreno muito fértil para essa comparação, facilmente vira competição e com chances de despertar a inveja feminina, que como falei, é difícil de admitir.