RH Central – março/09
O psicoterapeuta Luiz Cuschnir fala das divergências entre os sexos no ambiente corporativo.
Para se ter ideia do persistente problema, segundo recente pesquisa realizada pela Catho Online, dentro de um universo amplo de 9.500 executivos, as mulheres executivas percebem sua remuneração 16,2% menor do que as percebidas por homens em posição idêntica. Outra constatação: por serem homens, os executivos já saem na frente ganhando em média R$ 750 por mês a mais do que as mulheres. Por que será que isso ainda acontece? No bate-papo a seguir, o psicoterapeuta e especialista em diferenças homens/mulheres, Luiz Cuschnir, explica o quadro atual, os desafios e o real papel das profissionais do sexo feminino no ambiente corporativo.
RH Central: De maneira geral, quais as principais diferenças de colocação profissional notada pelo sr. entre homens e mulheres? E quanto à remuneração?
Luiz Cuschnir: As maiores diferenças é quando se fala de “atendimento pessoal”. Mulheres saem na frente e estão preparadas. Por exemplo: a área de saúde. No mercado e nos ambientes acadêmicos, as mulheres dominam com uma curva ascendente nas últimas décadas. Isto é, elas eram minoria em faculdades de Medicina, por exemplo, e hoje são a grande maioria. Portanto, isso se reflete no ambiente profissional. Já outros redutos profissionais ainda são dominantemente masculinos como certas áreas empresariais e institucionais bancários. Em outras áreas pedagógicas e que demandam mais a criatividade e o senso artístico-estático é mantido com o universo feminino predominante. Em respeito à remuneração, infelizmente as mulheres ganham 35% menos que os homens no Brasil. Estamos atrás da Índia.
RH Central: O sentimento de igualdade de direitos e posições está reinando ou existem, de fato, muitas barreiras ainda?
Luiz Cuschnir: Elas estão se preparando para ingressar [no mercado] e, consequentemente, ocupam cargos dividindo muitas vezes ombro a ombro com eles. No meu contato diário, muitos anos como psicoterapeuta, foi avaliado que no ambiente emocional, mais íntimo delas, elas são menos pruridas em serem competitivas. Estão livres para sair em busca de colocações, comparações e conquistas no ambiente profissional. Não existe mais o “não fica bem para uma mulher”, como era no passado. Hoje, elas determinam tendências, dirigem e influenciam rumos e chegam denunciando o que está distorcido (do ponto de vista delas, é claro).
Na crise, quem se dá melhor, o homem ou a mulher? Com a concorrência acirrada em função da crise financeira mundial, quem pode ajudar mais às empresas: homens ou mulheres?
RH Central: Em sua visão, qual a importância de trabalhar a motivação no mercado de trabalho em momento conturbados?
Luiz Cuschnir: Motivar-se pode ser uma consequência ou fonte criadora. Tê-la originada de um fator externo, do meio ambiente, com a crise mundial, pode indicar uma contaminação do que está fora, dos comentários dos outros, da pressão e da opressão que obriga produzir pelo medo da perda. Quando se consegue mobilizar funcionários trazendo os seus melhores atributos, confirmamos seu potencial e fortalecemos seu ego, o seu eu. Funcionários conscientes da crise e ao mesmo tempo confiantes em si mesmos, na sua capacidade e força interior, respondem muito melhor, motivam-se para enfrentar os tantos leões e outras feras soltas por aí. é preciso cuidar sempre para que o medo contaminador não paralise as pessoas.
RH Central: Entre os profissionais de sexo masculino e feminino, quem lida melhor com demissões?
Luiz Cuschnir: Quanto mais envolvido pessoalmente com o funcionário, quanto mais personalizada for a relação RH-funcionário, mais dificuldade haverá nessa situação. Muitas vezes, a utilização de mecanismos racionais facilita esse momento, mas é preciso tomar cuidado para esse aspecto “mais razão, menos emoção” não se propagar para outras esferas pessoais. Em termos gerais, homens estão mais propícios a traçar planos organizados e concretos ao orientarem o processo [de outplacement]. Não estou falando do ato de demitir, mas como pode se dar essa atividade indicada. Já por outro lado, a mulher tem em geral uma condição empática e mais livre de mobilizar os sentimentos que uma demissão acarreta.
RH Central: Em seu ponto de vista, que tipo de profissional tem um perfil mais adequado para os momentos de turbulência, os homens ou as mulheres?
Luiz Cuschnir: Não se trata de gênero masculino ou feminino. Ambos precisam retomar suas perdas e conseguirem tomar a posição do outro. Na turbulência, todos entram em alarme, mas o que se proclama, de que se deve manter a calma, é quase impossível. Precisa-se ser um monge tibetano para manter a calma em uma crise importante, e muita gente não tem esse desenvolvimento. Homens têm a seu favor o histórico da sua contenção que segura a exposição e desequilíbrio emocional visível. As mulheres têm a seu favor a adaptabilidade e flexibilidade em encontrar outros caminhos pessoais quando “o mundo está desabando”. Elas substituem as relações interpessoais com mais facilidade. Homens têm mais facilidade em encontrar subterfúgios que demandam ações físicas.