Entrevista concedida ao Diário da Região
Diário da Região: Porque as pessoas entram nesses relacionamentos? Que ligações podem ter com o passado?
Luiz Cuschnir: Quando uma pessoa está procurando outra para se relacionar, ela irá procurar alguém que se encaixe em seus critérios ou exigências, ou seja, que corresponda a um modelo já pré determinado, mas que nem sempre é muito rígido, podendo ter todas ou só algumas características principais que esta pessoa estipulou como sendo o melhor para ela, isso tudo de maneira consciente. Porém existe uma grande força inconsciente que age de forma muito mais decisiva na hora de gostar de alguém, e que tende a repetir modelos de relacionamentos passados, principalmente os com os pais na tenra infância. Esses modelos são aprendidos e ficam registrados no inconsciente como a única forma de se relacionar com alguém intimamente. Às vezes vemos as pessoas falando: “Eu procuro, procuro… mas sempre acabo me relacionando com o mesmo tipo de pessoa.” Não que não exista outros tipos, mas o seu inconsciente só se interessa por aquele determinado perfil, provavelmente para repetir uma experiência do passado que está registrada como um modelo a se seguir.
Diário da Região: Porque as pessoas se mantêm em relações, mesmo sabendo que não estão bem nela?
Luiz Cuschnir: Dependendo de cada pessoa podemos ter um tipo de resposta, mas o mais comum é vermos pessoa inseguras, com uma baixa auto estima, que se mantêm em um relacionamento ruim pois ao longo de suas vidas receberam ou interpretavam uma mensagem de que não mereciam coisa melhor. Muitas vezes também estas pessoas depositam toda a sua infelicidade no companheiro que lhe faz mal para não olharem para dentro de si mesmas e se responsabilizarem pelo rumo de suas próprias vidas, pelas suas frustrações e tristezas. Fica mais fácil lidar com tudo isto projetando a culpa de suas infelicidade em outro, se livrando da carga de responsabilidade pelas suas atitudes.
Diário da Região: Porque algumas pessoas se sujeitam a qualquer tipo de relação?
Luiz Cuschnir: Geralmente essas pessoas passaram por um período de carência muito grande na primeira infância, se sujeitando a relacionamentos infelizes para terem alguns poucos momentos de carinho e atenção. Não se acham merecedoras de mais do que isto, pois se seus próprios pais (figuras e exemplos do amor incondicional) não lhe deram carinho e amor suficiente, elas não esperam que ninguém mais dê, até desconfiam se alguém lhes trata bem, lhes dá atenção e amor, pois não foi assim que foram criadas, “se a esmola é grande, o santo desconfia…”
Diário da Região: O senhor pode dar dicas de como sair “disso”, de como não entrar “nisso”…(relações que não fazem bem)
Luiz Cuschnir: Dificilmente uma pessoa consegue perceber isto sozinha sem uma ajuda profissional. O nosso psiquismo é dotado de um sistema de defesa extraordinário, o qual barra qualquer informação que tenha uma carga emocional muito grande capaz de desestruturá-lo. Por isso fica muito difícil para a pessoa chegar no cerne da questão de seus maus relacionamentos, pois estas questões estão geralmente ligadas a sofrimentos e carências da infância e que causam imensa dor psíquica. O melhor que se tem a fazer é procurar uma ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra que conseguem perceber estas defesas e fazer com que a pessoa possa entrar em contato com estas questões profundas, tendo maior controle consciente sobre suas emoções.