Entrevista concedida ao Jornal da Família – jornal O Globo
Em 30 anos de profissão, o psiquiatra Luiz Cuschnir acompanhou experiências de vida, dor e amor de homens e mulheres. No seu livro, “A Relação Homem & Mulher – uma história dos seus encontros e diferenças”(Campus) ele diz que para mudar é preciso romper e transformar para ter algo novo.
Jornal da Família: Quais são as mudanças do comportamento masculino que geram conflitos?
Luiz Cuschnir: Os homens não querem mais ser o super-homem, não aceitam mais tantas cobranças por parte das mulheres. Isso está relacionado à diminuição da culpa e eles sentem que não precisam mais pagar a conta sozinhos. Por outro lado, ainda querem que as mulheres se arrumem, se mantenham atraentes e que os estimulem sexualmente. E as mulheres se perguntam por que eles podem estar fora de forma e elas não? Esse é dos motivos de conflitos. Os homens rejeitam a vulgaridade, a futilidade e a fofoca, a agressividade, o egoísmo, as supermães, a manipulação, a frieza, a humilhação e a ambição acima de tudo.
Jornal da Família: Quais as atitudes do homem que contribuem para a paz na relação amorosa?
Luiz Cuschnir: Os homens hoje valorizam o crescimento pessoal e profissional das mulheres, mas não recebem o mesmo tratamento. Eles querem uma relação em que exista confiança, liberdade, compromisso e entrega. Buscam o relacionamento maduro, com afeto, no qual os dois possam se realizar.
Jornal da Família: Os homens estão confusos?
Luiz Cuschnir: Elas estão independentes demais. Eles querem ser solicitados mas começam a ter a impressão de que as mulheres fazem tudo sozinhas, agem como homens. E eles se perguntam por que estão ali.
Jornal da Família: O que mudou no erotismo?
Luiz Cuschnir: As mulheres estão mais livres, mas o erotismo tornou-se vulgar, banalizado. Há a idéia de que ter sexo e orgasmo é algo fácil, como nas novelas e nos filmes. As relações amorosas não têm esse perfil de alta voltagem. As pessoas acabam frustradas e numa performance falsa e artificial.
Jornal da Família: A disputa no mercado de trabalho prejudicou o relacionamento entre os sexos?
Luiz Cuschnir: Hoje a mulher entra na relação afetiva como na vida profissional. O que a mulher mais reclamava ocorre hoje com ela mesma: o homem voltava para casa e queria lidar com a mulher como se o casamento fosse uma empresa. O importante era saber: quanto custa? qual é o nosso projeto? Nisso, perdeu-se o sonho. Hoje, a mulher precisa recuperar o sonho e a fantasia femininos. Elas estão perdendo suas características.