Entrevista concedida à Revista Criativa
Juliana Zaroni: O normal não seria as pessoas dividirem as despesas?
Luiz Cuschnir: Normal é um conceito onde confirmamos um aspecto que não é considerado patológico, inadequado ou algo discrepante da realidade. Nesta situação diríamos que é incomum, mais pra inusitado. Aliás o mais comum é o inverso. Quando estamos nos deparando com o avanço da independência finaceira da mulher, claro que esta afirmativa sofre uma transformação. Os papéis de provedores tendem também a sofrer uma tranformação. Ainda não chegamos a normalidade desta situaçào onde o homem é sustentado pela mulher. São casos isolados, muita vezes camuflados.
Juliana Zaroni: A mulher hoje em dia (mesmo que mais tolerado na sociedade) também se sente mal quando é totalmente sustentada pelo o perceiro? Como o senhor enxerga essas questões?
Luiz Cuschnir: A mulher, em um primeiro momento (que pode durar meses a anos) até pode suportar mas isso começa a incomodá-la. A sensação é que este homem tem algo distorcido em relação a ela, ele ser um homem fraco, não ter uma admiração por ele etc. Há casos onde ela está sexualmente dependente. Aí poderíamos encontrar algum tipo de patologia do vínculo, ou até desta mulher, ou de carater deste homem, ou os dois.
Juliana Zaroni: Existe um perfil desse homem que é sustentado pela mulher que, além de sustentado, não pode se quer ser lembrado disso. Para os amigos o dinheiro é dele. Um exemplo: a mulher dá o dinheiro antes para que na hora de pagar a conta do restaurante ele saque a carteira e pague. Ele não aceita que ela dê um cheque porque vai aparecer o nome dela, só aceita dinheiro. A mulher faz de tudo para mantê-lo no falso papel de provedor e não melindrar o parceiro.
Luiz Cuschnir: Estamos aí em uma situação que o mais leve desajuste, um pode denunciar o outro. O ataque dela será sobre a condição em que ela além de sustentá-lo, é obrigada a mentir. Ele de estar sendo diminuído por ela. Mesmo que isso não esteja ocorrendo, está reprimido em cada um. Temos na maioria destes casos ma situaçãode sequestro emocional que explico bem no meu último livro “Os Bastidores do Amor” (ed. Alegro).
Juliana Zaroni: Como o sr. vê um homem com esse comportamento? Ele sofre de alguma “patologia”, psicologicamente falando? Como o sr. o analisa?
Luiz Cuschnir: Este homem pode estar regredido emocionalmente. Não consegue crescer ao não ter uma independência e confirmação de suas capacidades, habilidades. Até pode ter um distúrbio de carater, onde está sendo, ou aceitando uma condição onde explora ou está sendo impelido a ser explorado, como é o caso de sua sexualidade.
Juliana Zaroni:Já que ele tem tanta vergonha de mostrar que é sustentado, então porque não vai trabalhar? Não é um paradoxo?
Luiz Cuschnir: Nem sempre conhecer, ou se conscientizar de um conflito, torna a situação tão facil de ser transformada. Há uma série de conflitos a serem resolvidos para que a capacidade de cada um floreça, liberte esta pessoa de crenças e mitos que têm em relação a suas incapacidades. No caso de homens que têm o seu desenvolvimento psicológico atingido, traumatizado, podem desenvolver estas situações. Também estudo este tema em meu livro “Homens sem Máscaras – Paixões e Segredos dos Homens” (ed. Campus).
Juliana Zaroni: Porque essas mulheres demoram tanto a perceber que estão sendo exploradas?
Luiz Cuschnir: Como falei, elas também podem estar envolvidas em essa exploração, na medida em que há um papel complementar neste vínculo afetivo. Elas também precisam deste parceiro pelas suas necesidades, carências ou dependência. Mesmo se conscientizando do fato, estão impossibilitadas de resolvê-lo só com uma conscientização. Precisam resolver outros temas ligados a suas condições como mulher. Quando é uma questão de tempo de percepção, devem procurar quais são suas dificuldades de admitir o que já ocorria.
Juliana Zaroni: O sr. tem algum conselho ou dica para as mulheres evitarem esse tipo de relacionamento?
Luiz Cuschnir: Se perceberem e localizarem suas fragilidades no que diz respeito a procura de um companheiro. Ao menor sinal de invasão emocional (“Os Bastidores do Amor – Sentimentos e buscas que invadem os relacionamentos e como lidar com eles” – Ed. Alegro) traz muitas dessa situações.
Juliana Zaroni: Como o sr. as analisa? Elas podem estar vulneráveis, por que?
Luiz Cuschnir: Nem sempre as mulheres estão tranquilas e satisfeitas nas atividades profissionais ou sociais. Sentem-se isoladas, solitárias ou impossibilitadas de mudar de parceiro afetivo. Preferem continuar o que já existe, a buscar uma nova oportunidade de se relacionar com um homem diferente do que a elas se apresenta. Não querem se afastar e acreditam que ele pode mudar, mesmo que nada indique que isso poderá acontecer nesse específico relacionamento.