Vaidade Masculina – “O Novo Homem”

Concedida ao Diário da Região S.J.do Rio Preto – SP

Diário da Região: O mercado comemora o interesse dos homens por cosméticos, cirurgias plásticas, ginástica, entre outras ferramentas em busca da beleza. Na sua opinião, a mudança vai além das aparências e da estética? O que essa busca reflete?

Luiz Cuschnir: Com o advento do feminismo, a mulher saiu de uma posição passiva e passou a ser mais exigente em relação ao homem que quer como parceiro. Isto deu ao homem a chance de expressar sua vaidade e de cuidar de sua aparência sem ser rotulado como afeminado ou gay, já que tinham o reconhecimento e aprovação destas mulheres. O homem também se transformou e ampliou seus horizontes, dando um maior espaço interno para a expressão de sua sensibilidade e beleza. Porém, o mercado da estética se tornou muito lucrativo, e modelos de uma beleza inatingível são colocados a toda hora nos principais veículos de comunicação como sendo os modelos de beleza a serem seguidos. Isto traz uma eterna insatisfação com o próprio corpo, fazendo com que as pessoas comprem cada vez mais os produtos de beleza com a promessa que irão ficar lindos. Como sempre, há os dois lados da moeda. Uma transformação interna do homem que pode ajudá-lo a ser cada vez mais completo, também pode ser sua ruína, se a vaidade e a preocupação estética não forem acompanhadas de uma visão e crítica social.

Diário da Região: As mudanças observadas no homem moderno têm a ver com a nova postura da mulher diante de si mesma, da família e da sociedade ou estão ocorrendo devido a uma necessidade natural do macho de acompanhar a evolução tecnológica?

Luiz Cuschnir: Com certeza a postura da nova mulher causou um incômodo e uma conseqüente transformação no mundo masculino. Os homens tiveram que se adaptar a uma mulher ativa, que luta pelos seus espaços na sociedade e que impõe sua opinião. Estão sofrendo uma dura concorrência no mercado de trabalho e uma maior exigência inclusive em relação à satisfação sexual destas mulheres. Os homens que tinham tão claro o seu papel na sociedade estão tendo que reformular seus conceitos e sua posição, começa a surgir então o novo homem. Ainda estão meio confusos, as cobranças estão muito grandes para os dois lados, exigem-se mutuamente um super-homem e uma super-mulher. A tecnologia até está ajudando a se concretizar este modelo, mas no final, o que realmente vai contar é o equilíbrio e o bom senso para cada um achar seu espaço na vida familiar e social em que se sinta confortável, e que seja compatível com a sua natureza.

Diário da Região: Usa-se a expressão “metrossexual” para definir o homem que se preocupa com cosméticos, cabelo e decoração. Na sua opinião, como ficam aqueles que ainda reproduzem modelos das geração passada? Estão perdidos, fora do padrão?

Luiz Cuschnir: Quando se vive uma fase de transição como esta em que estamos vivendo, onde os papéis e as identidades masculinas e femininas estão se reformulando, é comum que convivam juntos os dois extremos: homens de uma geração de “machões” e homens que adquiriram uma postura totalmente contrária, se comportando de uma forma feminina. Tem espaço para os dois, pois há mulheres que também ainda não sabem o que querem. Porém estes dois extremos estão convivendo atualmente com uma sensação de inadequação e insatisfação principalmente no que diz respeito às relações inter pessoais. A sensibilidade que o homem está desenvolvendo não é igual a sensibilidade feminina; fala de seus sentimentos, mas não exatamente como as mulheres; se preocupa com sua beleza, mas a beleza dos traços masculinos e não os femininos. Os machões estão sim perdidos e ultrapassados, mas de forma muito parecida estão também os homens que imitam o padrão de comportamento feminino.

Diário da Região: Muitos homens não se entregam a nova postura de valorizar as emoções e a aparência por que tem medo de serem confundidos com gays? Essas fronteiras (homo e hetero) ainda vão continuar a existir?

Luiz Cuschnir: Valorizar a aparência e as emoções não é deixar-se envolver por uma “aura feminina” ou virar gay. Pode-se muito bem fazer isto de um jeito masculino. Os traços de beleza masculina são bem diferentes da beleza feminina, assim como o jeito de expressar as emoções. O novo homem tem a tarefa de encontrar um modo diferente de expressar a sua masculinidade, suas emoções e sua sensibilidade, de uma maneira que não agrida e desrespeite o seu oposto feminino, isto sem necessariamente ter que imitar as mulheres.

Diário da Região: Para o homem é um alívio não ter de ser mais o machão que sustenta a casa?

Luiz Cuschnir: Durante muito tempo, o papel do homem foi o de sustentar a família sozinho. Isto, muitas vezes gerava uma sobrecarga e uma responsabilidade muito grande. Na teoria seria um alívio ter com quem dividir esta responsabilidade, porém na prática não é isso que vem acontecendo. Com o ingresso da mulher no mercado de trabalho, o homem se sentiu invadido, perdeu o seu papel principal de provedor, começou a encarar a mulher como uma concorrente e não como uma parceira, principalmente quando a mulher tem um melhor salário. Trabalhar fora também representa maior independência e contato com outros homens, fatores estes que também trazem mais insegurança para o homem. O que na teoria seria um alívio para os homens, acabou virando mais um fator de stress. Para homens mais bem resolvidos quanto à auto-estima e posição social, isto não causa tanto incômodo, porém, estes são uma parcela bem diminuta da sociedade.

Diário da Região: E como fica a mulher diante desse novo homem?

Luiz Cuschnir: Assim como elas estão sendo muito exigidas em seu novo papel, tendo que ser bonita, magra, bem sucedida no trabalho, ótimas mães, terem múltiplos orgasmos e etc… Elas estão exigindo um novo homem à altura. Porém estes são apenas modelos, impossíveis de existirem na realidade. Como este homem está em falta no mercado (pois ele não existe), uma sensação de insatisfação e frustração vem sido uma das principais queixas das mulheres nos consultórios psicológicos e psiquiátricos. Elas não conseguem dar conta de tantas exigências e não acham o que esperam quando se relacionam com um homem.

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