Concedida a Isabela Leal- Revista Máxima (ed. Abril)- 26/09/2011
O grande conflito é: “Você está numa situação complicada na sua vida (pessoal, profissional, familiar) e não sabe como resolver”.
Para quem tem dificuldade de assumir as responsabilidades da própria vida, o primeiro reflexo é justificar “a não solução” com alguma desculpa.
Revista Máxima: O que leva a pessoa a essa inércia? A gravidade do problema? A personalidade? é dela a essência de dar desculpas, como se nada pudesse ser feito?
Luiz Cuschnir: Os traços de caráter e da personalidade, associados a situações de vida que a impedem da possibilidade de resolução, com uma baixa auto-estima proveniente de situações anteriores, oferecem condições para se instalar essa maneira de levar a vida, vivendo repetidamente a impossibilidade de resolução de conflitos. Neste workshop que realizei do Gender Group® no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo neste sábado, propiciei a busca do histórico de cada um como homem e como mulher, incluindo numa etapa seguinte onde se sentiam com o Poder e depois lidarem com ele para propiciar mudanças de atitudes e recursos para a seq&uulm;ência da vida de cada um.
Revista Máxima: O que leva a pessoa a transferir para pessoas e circunstâncias o que é de responsabilidade absoluta DELA MESMA?
Luiz Cuschnir: Existem pessoas que tendem à dependência dos outros. Trata-se de uma característica da personalidade que não se transformou ao longo do seu crescimento e evolução, permanecendo numa atitude infantil. Estou falando de simplesmente transferir e não de culpar os outros por não ter conseguido algo. Mas há pessoas que estão nessa situação por sobrecarga de responsabilidades que assumiram ou foram a ela delegadas e não conseguem dar conta disso. Não é incomum que chega ao meu consultório particular, pessoas que vêem inicialmente colocando a culpa em tudo e em alguém. Com o tempo chegamos nas sessões individuais, às suas responsabilidades como causadoras das condições que estão imobilizando o seu desenvolvimento.
Revista Máxima: É uma sabotagem essa postura de não assumir e ver o problema crescendo, paralisada, sem fazer nada? Ou talvez age assim só para dizer que é vítima das circunstâncias…
Luiz Cuschnir: Em ambos os casos é uma sabotagem do seu potencial se realizar. Ela pode até conhecer o problema a ser equacionado, mas ela pode estar “ocupada” com outros tantos, até inaparentes como os psicológicos, onde traumas ainda ocupam áreas energéticas impedindo a resolução de algo que para quem vê, é simples. A sabotagem vem ao se colocar como vítima também. Há traços específicos de personalidade onde a culpa é sempre do outro ou da vida, e ela demonstra que não tem as condições necessárias para resolver o que está sendo-lhe indicado. O papel de vítima também demonstra a inabilidade que tem e pode criar um vício de conduta e nem perceber mais o que faz consigo mesma.
Revista Máxima: Como ela poderia começar a sair dessas situações? Qual o primeiro passo? Na prática, o que ela pode fazer? Como reagir e começar a assumir as responsabilidades?
Luiz Cuschnir: A conscientização que ela faz pode vir de si própria e de fora (família, amigos ou relações afetivas. Como se trata de posturas que podem ser inconscientes e até estimuladas pelo meio que a rodeia, nem sempre são eficazes os aportes de pessoas com quem ela se relaciona. Podem ter o maior interesse em que elas continuem assim, seja por que estão acostumados com ela assim, seja por não quererem lidar com a possibilidade dessa pessoa crescer e se posicionar, que pode dar mais trabalho. A auto percepção demanda um exercício de se enxergar no espelho, que muitas vezes precisa de um trabalho psicoterapêutico que é com alguém de fora da sua vida e está “autorizado” a apontar suas falhas sem parecer seu inimigo.
Revista Máxima: Como é possível criar forças e coragem para deixar de dar desculpas, enfrentar e resolver. Essa resposta deve vir com dicas de atitudes (talvez seja bom separar por segmento da vida, pessoal, profissional e familiar) que ela pode adotar no dia a dia para sair dessa saia justa.
Luiz Cuschnir: Primeiro fazer um balanço de sua vida e verificar se ela acompanha o seu desejo de realização pessoal. Depois, separando cada contexto, fazer um trabalho terapêutico visando sair dos papéis estagnados e os que estão comprometidos com a evolução que deseja, se posicionar com sinceridade para fugir dos esteriótipos que usa para não enfrentá-los. Às vezes um papel ou uma área contamina a outra. Não consegue se realizar como profissional e passa a sentir-se inferior na maternidade influenciando como lida com seus filhos. Ou o oposto, como não está bem na maternidade, assume uma postura exigente em demasia no trabalho, que vai sofrer as conseqüências, deturpando a sua performance profissional. Ficam super responsáveis em uma e irresponsáveis em outra. De qualquer forma, é muito importante ter-se em conta que atitudes podem mudar com o decorrer da vida e as oportunidades e relações que estão ocorrendo na atualidade. Portanto não é aceitável que situações insolúveis paralisem totalmente a evolução de cada um em todos os seus papéis. Não é genético e também se deve levar em conta que quadros patológicos (depressão, ansiedade, dependências químicas) podem estar associados e precisam ser tratados adequadamente.