Concedida ao jornal Diário Catarinense
O que a ciência vem descobrindo a respeito das diferenças entre homens e mulheres.
Tatiana Beltrão: Homens e mulheres têm mesmo habilidades e capacidades cognitivas diferentes? Quais são as principais diferenças?
Luiz Cuschnir: Há algumas habilidades que podem ser mais comumente desenvolvidas em um ou outro. Elas implicam em uma maior facilidade posteriormente na vida de serem realizadas. Isto significa que podem ser ensinadas, treinadas e mobilizadas na esfera emocional ou na habilidade específica e acabam se desenvolvendo com mais facilidade. Também algumas facilidade como força física ou desenvolvimento de percepção, estímulos sensoriais que vão depois com o decorrer da vida propiciando uma maior capacidade de ação específica. Mais geralmente mulheres utilizam as mãos para tarefas mais delicadas, se organizam melhor em tarefas domésticas ou de escritórios, sabem mais dividir tempos e papéis quando se trata de relações familiares. Homens podem se dar melhor com atividades que demandam uma certa força muscular, visualização e execução organizacional em empresas ou programação de projetos a serem executados.
Tatiana Beltrão: Em relação à inteligência, li alguns artigos que dizem que nenhum estudo até agora comprovou vantagem dos homens sobre as mulheres neste item, ou vice-versa. Isso é verdade? Se é, por que os homens ainda se destacam mais nas ciências e outras área de conhecimento? A questão é cultural também? O senhor acha que estamos caminhando para a igualdade nesta área?
Luiz Cuschnir: Não se pode absolutamente dizer que a inteligência está relacionada a gênero. O destaque em certas áreas às vezes podem estar relacionados com as oportunidades que estes homens tem de se dedicar a suas atividades, estilos de vida que também facilitam essa dedicação e toda a estrutura social que pode propiciar o aparecimento de talentos na área científica. A igualdade vai se dando, cada vez mais, conforme vão surgindo as transformações também sociais em paradígmas do posicionamento do homem e da mulher perante a sua responsabilidade e atribuições profissionais.
Tatiana Beltrão: As dinâmicas cerebrais (não sei se este termo é correto) diferentes entre os sexos explicariam também os comportamentos diferentes que homens e mulheres tendem a ter (como a fato da mulher ser mais emotiva e se abrir mais, e os homens, em geral, mais objetivos e mais fechados)?
Luiz Cuschnir: É claro que os estímulos que vão ocorrendo, até precocemente específicos da educação de cada gênero vão propiciar mais emoções, ou mais objetividade, repressão em um ou outro. Nos livros que escrevi – “Homens e suas máscaras” e “Homens sem máscaras” da ed. Campus, trata destas questões amplamente.
Tatiana Beltrão: Pensar que comportamentos podem ser moldados pelo modo como o cérebro funciona não traz o risco da gente ver a questão de uma forma determinista? Podemos dizer “ah, os homens são assim mesmo porque o cérebro deles é diferente”, ou o mesmo no caso das mulheres. Ou a questão não é assim tão simples? Imagino que a bagagem cultural/social e a psicológica devem ser importantes também. Pode-se dizer que somos uma soma destes aspectos?
Luiz Cuschnir: Acho sim que determina e é preconceituoso manter no “cérebro”, seja do ponto de vista físico como químico, que assim é que funcionam. Toda a bagagem que vai se instalando e depositando em memórias, até invasões emocionais, deixam marcas de atitude e comportamento que vai afetar um ou outro. No último livro “Os bastidores do amor – os sentimentos e as buscas que invadem os relacionamentos e como lidar com eles” da ed. Alegro, trato da questão do sequestro emocional que invadem com conceitos e moldam comportamentos.
Tatiana Beltrão: Na sua opinião, como a psicologia e a psicanálise têm visto estas descobertas? Na minha visão de leiga, acho que muitos psicólogos e psicanalistas devem torcer o nariz para este empenho da neurociência em descobrir como o cérebro funciona e como determina nossas reações.
Luiz Cuschnir: Os avanços em laboratório explicam muitas questões de uma maneira causal, causa-efeito, não ampliam o entendimento nem captam a diversidade de interferência no ser humano. O potencial econõmico investido aí, demandando pesquisas que geram muito dinheiro, naõ tem o mesmo aporte e poder econõmico que os estudos em psicologia ou psicoterapia. Vão influenciar e muito as informações científicas.
Tatiana Beltrão: é verdade que homens e mulheres reagem de formas diferentes à paixão? Li que no cérebro dos homens as áreas ativadas pelo sentimento amoroso seriam as ligadas à excitação sexual e que os homens se excitam basicamente por imagens; nas mulheres, as áreas ativadas seriam as ligadas à emoção, e elas não se excitam tanto pela visão. é isto?
Luiz Cuschnir: Também mulheres iniciam sua vivência sexual em sensações mais sensoriais emocionaise os homens muito mais nos estímulos visuais. Ambos vão aprendendo daí seu comportamento sexual. Mulheres vão se emocioando, se envolvendo em fantasias ligadas ao que sentem afetivamente. Já os homens partem mais facilmente para o físico, corporal, e associam ao visual para se excitarem. Depois é que podem ou não associar o amor, afeto.
Tatiana Beltrão: Que tipo de pesquisas o Grupo de Gênero está fazendo no Hospital das Clínicas? é possível falar sobre algumas constatações?
Luiz Cuschnir: São em grupos de homens e de mulheres em separado onde verificamos através de questionário, escalas e acompanhamento clínico psicoterapêutico. Aparecem necessidades diferentes em cada gênero, onde muitas vezes a emocionalidade restringida (restrição a emoções) propalada ao gênero masculino como “incapazes de sentir” está só relacionada a comunicação dos sentimentos e não ao envolvimento afetivo com as mulheres. Também constatou-se que as mulheres estão em pé de igualdade, ou até um pouco superiores quando se trata de ascenção profissional. Hoje elas acreditam ser extremamente importante na confirmação pessoal serem profissionalmente bem sucedidas, quando se compara com os homens.
Tatiana Beltrão: O senhor acha que o conhecimento de como o cérebro de homens e mulheres funciona pode ajudar a derrubar preconceitos? Quero dizer: compreender a relação entre corpo e sentimentos (posso definir assim?) pode nos ajudar a promover maior compreensão entre os sexos e mais felicidade nas relações amorosas?
Luiz Cuschnir: Não vejo uma maior utilidade nesse momento esta verificação de alocar no cérebro questões que estão na área das emoções, nem as que demandam uma evolução da mudança de paradígmas sociais e da relação de gêneros. A compreensão entre eles, sinais de felicidade, enfim uma harmonia maior e um aumento de compreensão, possibilitando uma relação amorosa passa não por uma medida laboratorial, seja celular ou bioquímica. Ela está no desenvolvimento da comunicação, da expressão dos afetos, da educação emocional e outros tantos temas relacionados ao amor.