Entrevista concedida a Fabiano Ferreira – Diário da Região – São José do Rio Preto – abril/2007
Fabiano Ferreira: Muito se falou nos últimos anos sobre as transformações vividas pela mulher na sociedade. Você acha que agora elas estão encontrando um meio termo? Estão mais confortáveis?
Luiz Cuschnir: Sem dúvida há um conforto maior quando não se tem que esconder o que se é. Ficar em uma atitude de humilhação submissa ou como em outros momentos, ter que ficar em guarda para que não fechassem a porta na cara da mulher que queria entrar na vida com todo o seu potencial. Por outro lado se fala muito que a mulher se sobrecarregou com o acúmulo dos papéis que encara hoje em dia. São exigências constantes em que tem que se provar, confirmar, enfrentar, sobreviver e sair-se vencedora do que quer conquistar. Também não dá para se dizer que é o conforto de estar em um SPA ou de férias na praia ou na montanha tomando sol. Agora, se o conforto é em função de sentir um reconhecimento do seu potencial mais amplamente, sim ela não se desgasta tanto quanto o fazia antigamente.
Fabiano Ferreira: As feministas era muito radicais e depois as mulheres peruas exageraram nos cuidados com o corpo e a beleza. Você acha que hoje é possível ter mais equilíbrio entre a carreira e o espaço pessoal e familiar?
Luiz Cuschnir: O equilíbrio entre a vida e a carreira profissional, com a possibilidade de dedicar-se a si mesma e à família como gostaria, é o grande desafio da mulher hoje. Nesse último livro onde abordo a mulher e os aspectos que estão relacionados com suas dificuldades, trago como exemplos a mulher com máscara de ferro e a dondoca como ilustração de como a mulher pode estar sendo vista de uma maneira muito diferente do que ela é na sua essência. O equilíbrio então se dá justamente quando ela consegue conciliar o que está mostrando com o que é verdadeiramente.
Fabiano Ferreira: Pesquisas mostram que as mulheres estudam mais e cada vez tem titulação maior. Você acha que essa foi uma via encontrada por elas para provar que são capazes? Que efeitos isso tem em suas relações?
Luiz Cuschnir: Essa evolução vem de uma necessidade, inerente a elas, de ampliarem seus horizontes no intuito de conquistarem mais realizações pessoais. Não vejo isso como uma comprovação de que são capazes. Sem dúvida têm um potencial que desejam que seja preenchido portanto vão em busca disso para o seu desenvolvimento pessoal. Esta busca provoca um estímulo aos homens para também se ampliarem e se desenvolverem, mas podem também ameaçá-los se não tiverem as mesmas condições de interesse em se dedicar e de se esmerar para obterem um maior desenvolvimento acadêmico e chegar a mesma titulação. O degrau pode ir ficando maior e as trocas intelectuais e culturais vão ficando mais difíceis para ambos.
Fabiano Ferreira: E os homens, já estão assimilando essa nova mulher ou ainda estão assustados e perdidos?
Luiz Cuschnir: Não os vejo perdidos. Sabem que se não correrem atrás, “a roda gira” como se diz, o mundo continuará a escolher os melhores para cada tarefa que precisa ser desempenhada. Os homens já estão bem mais mobilizados a desenvolverem o seu potencial de relacionamentos, a integração do emocional com o racional, o cuidado pessoal e com a própria saúde. O susto ocorreu quando tiveram que acordar no meio do seu sonho de que tudo estaria já conquistado e estariam sentados no seu trono de autoridade máxima. Agora ambos estão em condições de liderar.
Fabiano Ferreira: E as mulheres que ainda são submissas, tanto intelectualmente quanto financeiramente, como elas vão ficar em poucos anos? Qual será seu destino?
Luiz Cuschnir: Cada vez mais a submissão intelectual não consegue ser mantida em virtude dos meios de comunicação que ultrapassam quaisquer fronteiras para o conhecimento chegar a elas. Quase fica uma piada um homem querer restringir uma mulher na percepção do que está acontecendo com a sua capacidade de resolver e raciocinar em quaisquer situações da vida. Quanto à submissão econômica, temos cada vez mais o crescimento profissional e a compensação econômica e hierárquica do trabalho nas atividades profissionais da mulher. Ainda resta mais a conquistar mas há mais reconhecimento hoje do existia há décadas atrás. Como trago no meu último livro, a situação de mulheres que despontam e se dedicam excessivamente a carreira sofrem com a necessidade de outro tipo de submissão, a da repressão nas suas vidas afetivas. Acredito que se elas perceberem o que ocorre quando deixam de lado necessidades amorosas e afetivas, terão que reavaliar como manter um equilíbrio de todos aspectos afetivos e profissionais harmonizados. Mas enquanto a mulher não se valorizar também pelo que faz para manter uma família ou suas atividades no âmbito privado, digo familiar, no financeiro estará vingente o poder do dinheiro. As submetidas a este autoritarismo de o que impera é quem põe dinheiro dentro de casa, a submissão rondará suas vidas e só recuperarão sua auto-estima quando se impuserem de outra maneira. Para isso, reconhecer quem elas são como mulheres em sua totalidade é imprescindível para a noção de si próprias e atacarem diretamente a baixa auto-estima que propicia a submissão.
Fabiano Ferreira: Há muitas mulheres que ainda têm dúvida da própria capacidade? Isso é resquício cultural, da educação?
Luiz Cuschnir: Não é a dúvida pessoal da capacidade por ser mulher mas sim por ter seus medos intrínsecos relacionados aos mitos de que se a mulher toma a dianteira e lidera no âmbito público, ela não deve ser boa na vida amorosa. Se é profissional de sucesso, é mal amada. Se não tem filhos, não é realizada. Às vezes são mitos arraigados que vão permeando seu crescimento e quando se vê, ela está produzindo abaixo do seu real potencial. Tem que escolher caminhos com preconceitos e aceita que não tem a capacidade que o homem tem. Os modelos de pai e mãe, de outras figuras masculinas ou femininas, vão deixando marcas e a mulher pode se desenvolver com essa condição de que ser mulher é quase um símbolo de ser “menos”. Deixo claro que enquanto a mulher não se descobre inteiramente para si mesma, não se conhece e domina todos os seus espaços internos ela pode ficar sujeita ao que esperam e veem dela, a imagem que mostra e não o que ela é integrando o externo e o interno de sua essência como mulher. Isso a enfraquece e deixa espaço para duvidar de si mesma.
Fabiano Ferreira: Como você imagina que serão as mulheres das próximas décadas, as que hoje estão na adolescência? Seu comportamento será muito diferente do que se vê hoje?
Luiz Cuschnir: Cada vez mais cedo as jovens rejeitam rapazes que as tratam com desvalorização. Quando ultrapassam a atração inicial pelo futuro homem, e tentam localizar qual é a expectativa que podem ter dele no futuro, vão buscar se ele está preparado para respeita-las no seu crescimento pessoal. Essa adolescente e jovens mulheres de hoje, não se imaginam aceitando algum homem que as trate como inferiores e podemos imaginar que nas próximas décadas, os machistas irão parecer trogloditas, seres primitivos. Desde já, elas estão sendo colocadas lado a lado nos espaços do conhecimento, da cultura, dos estudos e dos ambientes sociais que as valoriza. Eu duvido que aceitarão uma situação retrógrada.
Fabiano Ferreira: Mesmo com tantas conquistas, o que ainda falta para a mulher?
Luiz Cuschnir: Como falei um pouco, e que amplio neste livro “A Mulher e Seus Segredos – Desvendando o mapa da alma feminina” o conceito de Ser com letra maiúscula para a noção da mulher que ela é, acredito que ela precisa conquistar a íntegração entre os papéis que exerce no mundo exterior com a sua essência feminina, o seu mundo interno. Reconhecer a própria essência como mulher, seus atributos, o que ela é também como alma que vive a relação de amor consigo própria e com os que são significativos para ela, vai propiciar uma conquista verdadeira e integradora da sua identidade.
Fabiano Ferreira: Muitas vezes vemos mulheres poderosas em grandes centros. Mas o que você diz da nossa realidade aqui em Rio Preto? Exceto as mulheres que têm dinheiro, são de famílias ricas, as demais estão acompanhando estas mudanças?
Luiz Cuschnir: Não faço distinção das mais ou menos favorecidas economicamente pois o que estou examinando e estudando, e o quanto consigo atingir propiciando transformações no pensamento feminino, intimamente as mulheres tem possibilidades de mudar. Mudar o jeito que se veem e mudar a forma de relacionamento com o homem. Se vê cada vez mais elas buscarem novos espaços, se questionarem sobre como estão vivendo, procurarem ajuda para crescer e propiciar um mundo melhor para todos. Como falei o poder econômico tem força, mas o que a mulher é essencialmente é a relação com o amor. Ela sabe lidar com ele e pode conseguir grandes mudanças de atitude dos que estão perto dela, desde que se dedique a um auto conhecimento e tenham uma postura que respeite que elas são. A mulher que se respeita também saberá impor e exigir respeito a ela. Não tenho dúvida que as mulheres de Rio Preto e toda região têm acesso ao que está ocorrendo. Acreditar que se a vida não a estiver satisfazendo, o relacionamento com o homem não é o que ela espera, mudar é a chave. Mudar quantas vezes for necessário. E ir atrás do que for melhor para ela e para o percurso da sua vida.