Organização e Tradução: Luiz Cuschnir.
Como poderia o pioneiro do psicodrama e da sociometria, do role playing, da psicoterapia de grupo, do moderno teatro da espontaneidade, de grupos de encontro e da arteterapia, e até de uma técnica para gravações sonoras – como poderia alguém possuidor de tamanho gênio criativo, com tantas influências na cultura contemporânea – como poderia um homem como esse ser tão mal compreendido em sua época? Esse é o mistério da vida de J. L. Moreno.
Em outros tempos, o psiquiatra talvez teria sido um profeta religioso, um mágico ou um guru; em seu próprio tempo, ele foi tudo isso e mais, um cientista. Qualquer que fosse o seu papel, ele teria procurado curar almas enfraquecidas, restabelecer vidas que não tinham sentido e ajudar aqueles que tivessem perdido seus sonhos a sonhar de novo. O que mais lhe doia eraver pessoas sem confiança emseu próprio poder criativo e sem a espontaneidade necessária para criá-lo. Para Moreno, onde há espontaneidade e criatividade, há, pelo menos, esperança.
Por isso, Moreno amava crianças, mais do que adultos; doentes mentais, mais do que pessoas são; e atores, mais do que intelectuais. Apreciava o jogo imaginativo infantil, so excessos do psicótico e a fome do ator para obter mais um papel. Para ele, as instituições eram “conservas” que restringiam a espontaneidade e a criatividade. As máquinas eram o símbolo do maior perigo que a humanidade enfrentava no século XX: o de que nós próprios nos tornariamos robôs incapazes de desenvolver formas novas adequadas de vivermos uns com os outros.
Foi em Viena, pouco depois da Primeira Guerra Mundial, que o Dr. Jacob Levy Moreno iniciou um experimento que provou ser um importante avanço na psiquiatria. Ele organizou algo chamado Teatro da Espontaneidade, que empregou atores e atrizes para participar numa nova forma de entretenimento, que cresceu pela improvisação baseada em palpites da plateias.
O experimento evoluiu em psicodrama, uma técnica que centenas de hospitais nos Estados Unidos e no mundo todo subsequentemente adotaram para ajudar seus pacientes a se descobrir e para ajudar no tratamento de vários estados de saúde, desde o alcoolismo até a esquezofrenia.
Para o Dr. Moreno o psicodrama ofereceu não tanto uma “cura” para problemas mentais, como um dispositivo para a autodescoberta, que poderia auxiliar a leva as pessoas ao bem- estar. Também, foi algo que caiu no gosto do público, através dos anos, quando abriu “teatros terapêuticos” na cidade de Nova York e outras, o mais conhecido sendo o Sanatório Moreno, de Beacon.
Com a organização e tradução do psiquiatra Luiz Cuschnir, a Editora Saraiva traz a público a obra J. L. Moreno – Autobiografia, uma viagem pela vida cultural do século XX, que reúne o relatório da jornada espiritual de uma das personalidades mais ricas e relevantes da psiquiatria mundial.
Segundo Luiz Cuschnir, um dos conceituados psicodramatista do Brasil, “ter podido conhecer o Doctor, como chamávamos no Instituto Moreno, em Beacon, com meus 23 anos de idade, marcou-me profundamente. Escutar algumas de suas histórias, fazer-lhe perguntas, conviver brevemente com ele foi tão importante para mim como hoje estar entregando esta autobiografia a vocês.”
Editora Saraiva, 1997