O Stalkear – baseado na série Baby Rena

Jornal Dr. Jairo Bouer – Jornalista Cármen Guaresemin
03/05/2024

Cármen Guaresemin – Até que ponto podemos considerar o “stalkear” normal. Isso porque praticamente todo mundo já fez isso em algum momento da vida. Assim, quando se torna algo preocupante?


Luiz Cuschnir – Buscar um contato mais constante, ou até só vigiar os passos do outro mais frequentemente, ocorrendo virtualmente não entra nessa categoria de perseguir, traduzindo o termo agora em uso corriqueiro. Quando ocorrendo virtualmente pode não entrar nessa categoria de perseguir pois pode ocorrer sem a pessoa nem saber que isso está ocorrendo. O estar ligado emocionalmente em alguém, positivamente ou negativamente, pode estimular esse comportamento. Ressalva que justamente nesses casos, às vezes impulsivamente, pode ocorrer o contrário: apaga o contato, se exclui e exclui para anular um relacionamento. Enfim: quando se preocupar, ser ativo ou passivo no stalking, avaliar os riscos que envolvem esse comportamento. O preocupante é quando essa perseguição fica desmedida.

Por que estou usando esse termo?

Estar entregue a essa perseguição atingindo realmente a outra pessoa, invadindo, cobrando, amedrontando o outro, é um indício de que está havendo uma atitude agressiva ou perversa que pode trazer danos.

Enfim: quando se preocupar, ser ativo ou passivo no stalking, deve-se avaliar os riscos que envolvem esse comportamento.

Cármen Guaresemin – Uma pessoa consegue perceber, sozinha, que está extrapolando?


Luiz Cuschnir – Só se perceber que está colocando o que sente em algum lugar errado ou da forma errada. Portanto um mínimo de autoconhecimento acrescido de um dimensionamento do que está ocorrendo consigo e com o outro, pode gerar esse “cair a chave”. Senão alguém ou algo vai apontar de fora para ela o que está ocorrendo.


Cármen Guaresemin – Quais os possíveis transtornos uma pessoa pode ter quando é stalker?


Luiz Cuschnir – Como o final da história, e não uma declaração de amor, é algo agressivo, mais ou menos, para chegar no outro de alguma forma, pesquisando um pouco a história dessa pessoa vai se encontrar de onde vem esse caminho que gerou o stalk.

Pode ter sido desvalorizada ou rejeitada e passou a valorizar alguém com a ilusão de que dessa forma recuperará o que sente que perdeu de uma forma insistente, pressionando esse outro.

A atitude de stalkear dá um poder falso que se imagina transformando essa rejeição. Situações que ocorreram com ela sem respeitar as suas limitações podem gerar uma retaliação a essa mesma pessoa ou até ser transferida para uma outra relação, muitas vezes na sequência de um mesmo tipo de relacionamento. Por ex. um namoro que segue após um outro.


Cármen Guaresemin – É normal em um primeiro momento o stalkeado se sentir lisonjeado com a situação? Isso mostra que ele também pode ter algum “problema” ou estar passando por algo?


Luiz Cuschnir – Não é normal, mas pode acontecer. Há pessoas que tem uma certa vacina e se blindam muito bem para não entrarem no stalk. Outras iniciam com culpa ou pena de quem está fazendo isso com elas e acham que vão conseguir “consertar”, transformar a situação. Podem estar se sentindo culpadas em deixar a pessoa tão carente.

E há aquelas que se alimentam das investidas para se autovalorizarem ou até fazerem a “autopropaganda” do quanto são desejadas (comum em homens). Isso equivale a necessidade de preencher-se pelo oposto, por precisarem disso pois não estão satisfeitas com o que acham de si próprias. Se não forem muito procuradas, no fundo estarão se sentindo não confirmadas, interessantes, etc.

Cármen Guaresemin – Qual o tratamento para a pessoa que é stalker e para quem foi stalkeado?


Luiz Cuschnir – O tratamento vai sempre das associações ao que está procurando de resposta nessa atitude. Muitas vezes nem é o que mais deseja mas vem como um impulso para preencher o que está carente como um todo e não daquela pessoa. Tanto um como o outro gastam essa energia sem lidarem com a origem dela. É um comportamento compulsivo de quem stalkeia. E também, o stalkeado precisa rever-se e insistentemente buscar a própria responsabilidade do que está acontecendo para não se acomodar no papel de vítima.

Cármen Guaresemin – Na série e na vida real essas pessoas podem ir para a prisão, mas isso resolve o transtorno?

Luiz Cuschnir – Se não for um desvio incurável da personalidade e do caráter, sempre há a possibilidade de um aprendizado, se vai ser por um meio jurídico ou uma psicoterapia psicodinâmica que trabalhe a raiz da situação e não somente aprender como deveria se comportar, a chance é grande de mudanças.


Cármen Guaresemin – A Internet e as redes sociais ampliaram o problema?


Luiz Cuschnir – Não diria que ampliaram. Acho mais que serviram de uma plataforma que pode ser usada como muita facilidade para que isso ocorra. A maior exposição e a facilidade de obter as informações são um terreno fértil para o stalkear.

Autor do seriado “Solidão e o Despertar do Ser – à luz da Física Quântica e Espiritualidade (em pré produção)





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