Portal IG – Paloma Lopes – março/2014
Cada vez mais mulheres optam por não ter filhos. Mas e se seus maridos sonham em ser pais?
É sempre assim: enquanto um gosta de acordar cedo, o outro prefere dormir até mais tarde. Um torce para o Palmeiras, o outro é corinthiano roxo. Ela gosta de vermelho, ele de azul. Até aí tudo bem, pois, para alento de homens e mulheres, diz o ditado que os opostos se atraem. De fato, algumas diferenças podem ser justamente o tempero de uma relação amorosa. Mas e quando o casal não consegue chegar a um consenso na hora de decidir sobre ter ou não um filho? E quando ele é louco pra ser pai e não vê a hora de carregar o herdeiro nos braços, enquanto ela sequer considera a hipótese de engravidar um dia?
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir, autor de livros como A relação Mulher & Homem (Editora Campus) e A Mulher e Seus Segredos (Editora Larousse), quando a opção por não ter filhos vem da mulher, geralmente isso está relacionado à etapa de sua profissionalização. É mais difícil que seja em função do seu relacionamento, por imaginar que seu companheiro não possui condições mínimas para ser pai. A restrição é inerente a ela própria, ao seu momento, e em alguns casos pode advir de traumas individuais, explica.
Já quando é o homem que não deseja ter filhos, Cuschnir afirma que geralmente estão em jogo preocupações financeiras ou mesmo a falta de auto-confiança de que é possível oferecer o ideal para uma criança, ou, trocando em miúdos, para uma família que, em diversos aspectos, dependa dele. No caso masculino, também deve-se levar em conta o possível pouco comprometimento ou falta de confiança no relacionamento, completa.
Segundo o psicoterapeuta, porém, quando o homem decide deixar de ser solteiro e passar a ser marido, geralmente já está mais aberto para a paternidade. Se as experiências anteriores propiciarem uma segurança emocional e ele decidir se casar, provavelmente já estará pronto para querer ou mesmo aceitar a idéia de ter um filho, comenta. Já a mulher, hoje em dia, está muito sobrecarregada em termos de tempo e energia, e por este motivo, o espaço para ser mãe acaba, muitas vezes, comprometido. De acordo com Cuschnir, isso não significa, no entanto, que não haja uma necessidade interna do sexo feminino pela maternidade. Pelo contrário: ela sempre vai existir. A questão é que a mulher dos tempos atuais pode até ter seu físico atingido, apresentando problemas como falta de libido, dificuldade para engravidar ou mesmo esterilidade. Muitas vezes, o físico denuncia seus conflitos internos mais intensamente do que o racional que diz eu não sei bem se quero ser mãe, salienta.
Para evitar mal-entendidos, o casal deve, antes do casamento, conversar sobre esses e outros temas que podem ser polêmicos. Afinal, ambos terão uma experiência nova e vão se transformar a partir dessa nova etapa do relacionamento, justifica. Caso, porém, não chegue a um consenso, Cuschnir orienta o casal a procurar ajuda profissional. Neste caso, segundo ele, sessões de terapia que examinam e tratam o vínculo afetivo e amoroso são as mais indicadas. A delimitação do tempo deve ocorrer após homem e mulher terem lidado com as dúvidas, receios e mitos de cada um em relação ao tema, ressalta.