Diário da Região S. José do Rio Preto (Revista Bem-Estar) | 11/2012
Em seu novo livro, o psicoterapeuta Luiz Cuschnir traduz a mulher do século 21 como poderosa e conquistadora, mas também sensível e repleta de dilemas
Conhecer e dominar se próprio “eu”, ser reconhecida por sua competência, seja ela em um escritório ou na cozinha. A mulher que identifica seu potencial fica mais segura e, por isso, consegue buscar e realizar seus desejos.
O problema segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Luiz Cuschnir de São Paulo, autor do livro “Como Mulheres Poderosas Se Tornam Mulheres Conquistadoras” (editora Planeta), é que o sexo feminino ainda demora para tomar consciência de todo seu poder. Algumas mulheres não só demoram como não percebem.
Mas, então como identificar uma mulher poderosa? Como ser uma delas? O psiquiatra revela a Bem-Estar a fórmula com base em pesquisas e vivência de estudos que o ajudaram a colher o material para escrever seu novo livro.
Bem-Estar: Como o senhor define uma mulher poderosa e conquistadora?
Luiz Cuschnir: Quando uma mulher conhece muito de si mesma e percebe-se vulnerável em certos pontos e plenamente capaz nos outros, ela constrói e confirma sua identidade feminina. É um fenômeno intrínseco, vivido interiormente. Quando ela leva todo esse poder que tem, amplia seu potencial para o mundo, expande-se e atinge, uma área maior fora de si. Essa é a conquistadora. Conquista o melhor do que dispõe para a vida que leva. Nem todas percebem e assumem o poder que existe dentro delas.
Bem-Estar: As mulheres poderosas e conquistadoras também são frágeis e sentem dúvidas?
Luiz Cuschnir: A fragilidade não é incomum, principalmente às mulheres com menos recursos de aceitar rejeições afetivas de homens. Às vezes essa mulher conquistadora é contraditória.
Ao mesmo tempo em que deseja que o amado seja romântico, ela se irrita quando ele chora ou fica deprimido. A raiz dessa contradição está em aspectos machistas que permanecem arraigados dentro dela. A mulher recusa-se a aceitar que o homem também tem o direito de ter seus momentos de fragilidade emocional, pois ela gosta de saber que tem um homem forte a sua retaguarda. Por outro lado as que não têm companhia deles podem desenvolver uma independência e procurar outras vias de realização pessoal sem um relacionamento estável. De modo geral, o caminho certo deve ser vinculado à harmonia interna e possibilidades externas.
Bem-Estar: As mulheres são conscientes de que querem ser únicas e tratadas como tal, mas entram em contradição com o “padrão” feminino. Por que isso acontece ainda?
Luiz Cuschnir: Elas estão envolvidas na busca de seus objetivos e, muitas vezes, se esquecem de elementos intrísecos, mais genuínos, que dizem respeito a ser mulher. Muitas não percebem nem que as próprias intitulações da suas funções profissionais são identificadas no masculino. Correm atrás tão fortemente disso para se sentirem envolvidas e consideradas que se afastam do que mais pode lhes diferenciar mais positivamente na vida: o seu feminino.
Bem-Estar: Em seu novo livro, há destaque para a beleza feminina como armadilha. Mas como provar a competência profissional sem sentir o peso da auto-afirmarão no mercado de trabalho?
Luiz Cuschnir: A mulher deve ser conhecida muito mais pela sua vitalidade e competência do que pela sua aparência. A mulher que se destaca pelos atributos físicos precisa constantemente validar o seu potencial cultural, profissional e ético para não ser colocada no rol da que se aproveitam só da beleza para galgar seu espaço. Na hora de disputar uma vaga de emprego, uma promoção no trabalho, ou mesmo competir com um homem por uma posição, a mais bela sempre sente que precisa provar que não é “apenas um rostinho bonito”. Mulheres muito bonitas que não se realizam como construtoras de algo, sejam elas profissionais, mães ou donas de casa, reduzem-se a essa condição estética, empobrecem, enfraquecem, e transformam-se em meros objetos de exposição de seu lado mais externo, quando deveriam focar no contrário.
Bem-Estar: Que dilemas impedem a mulher de conseguir atingir suas conquistas e desejos?
Luiz Cuschnir: Para a mulher moderna, do novo milênio, o desafio é equilibrar as conquistas femininas, e o lado feminino no seu dia-a-dia, sem perder a pose ou espaço conquistado. Hoje, a mulher vive em uma situação maior de conforto, mas muitas vezes sofre internamente por não conseguir atingir um ideal. Essa nova mulher trabalha,estuda, ama o marido e os filhos, ou quer um namoro para se realizar afetivamente e, ao mesmo tempo cuidar do próprio corpo e tantas outras funções. Tudo isso exige dela um esforço constante para se centrar emocionalmente. São exigências constantes, em que se tem que provar, confirmar, enfrentar, sobreviver e sair vencedora. O grande desafio é manter um equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira profissional, e a vulnerabilidade feminina ainda é grande.
Bem-Estar: Os Homens sentem-se ameaçados com as mulheres que possuem características conquistadoras?
Luiz Cuschnir: Os homens não se tornam frágeis necessariamente pela mulher assumir o seu poder. Mas eles ficam escondidos em “máscaras”, pouco conhecem a si mesmos e estão vulneráveis as mulheres que se sentem seguras.O homem pode aproveitar o que a mulher tem de positivo para construir uma relação muito forte e vencedora, compartilhando o poder e conquista entre os dois.
Bem-Estar: Qual a visão dessa mulher poderosa com relação a traição?
Luiz Cuschnir: Depende de como está consigo mesmas, a respeito da segurança que tem de si mesmas. Elas podem lidar com mais racionalidade, ficar sozinhas e até perceber que os homens têm menos chance de expressar o que sentem se frustrando mais. A traição quando acontece – até com uma mulher poderosa – pode atrair raiva e vingança, mas elas sabem que vingança não cura nada e só desgasta a vida. Acabam buscando outros meios para lidar com essa situação. Antes de se destruírem por causa de uma traição. Mas hoje a mulher também trai e tem mais recursos de relações sociais, de comunicação e da busca por contatos interpessoais mais profundos. As mulheres acabam tendo uma vantagem: como esses relacionamentos não se restringem a sexualidade, elas podem vivenciar isso de uma forma muito mais enriquecedora, rica em experiências.
Bem-Estar: Qual seria a fórmula mágica para conciliar carreira, família e manter o próprio bem-estar?
Luiz Cuschnir: A mulher do século 21 vive cercada de dilemas. Com o tempo, ela foi acumulando muitas funções, talvez demais, e por isso, sente-se dividida, o que pode enfraquecê-la e torná-la vítima de um insuportável sentimento de culpa. Se optou por ficar em casa, sente-se incapaz, se escolheu a carreira, sente-se incompleta, se está solteira, sonha experimentar o que é uma vida a dois; casada, sente a sobrecarga do casamento e, se descasada, fica dividida entre o alívio e a solidão. A verdade é que a “fórmula mágica” está em se conhecer profundamente, incluindo sua vulnerabilidade e o seu potencial criativo. É colocar tudo isso á disposição para o desenvolvimento do seu papel social mais amplo, que inclui tanto afetivo-familiar como o profissional-social.