Violência Doméstica Contra os Homens

Entrevista concedida ao site Mais de 50

Raphaela Guimarães: É comum homens apanharem de mulheres? Existem estatísticas ou pesquisas oficiais sobre isso?

Luiz Cuschnir: Apanhar é um termo muito associado a agressão física. Do ponto de vista físico, não consta muitos casos deste tipo de situação, mesmo sem uma estatística elaborada a respeito. Mesmo na ocorrência do fato, homens não declarariam ou se queixariam oficialmente do mesmo, por vergonha ou até por suportarem mais facilmente a situação, quando ela ocorresse.

Raphaela Guimarães: Por que ela acontece?

Luiz Cuschnir: Quando a física ocorre, é devida a descontrole emocional da mulher, seja por ingestão de alcool, drogas, ou quando há uma agressão emocional a mulher, ciumes, traições etc, e o homem está impedido ou não em se defender, por culpa, vergonha, e pode não conseguir revidar ou sustar a agressão dela. Agressões emocionais da mulher provocam nos homens constrangimentos, depressões, distanciamento afetivo, baixa energia principalmente no trabalho.

Raphaela Guimarães: A agressão contra os homens pode ser conseqüência de uma agressão psicológica contra a mulher?

Luiz Cuschnir: Como falei, homens que traem, mentem, desiludem, ignoram a mulher podem estar provocando-a de uma maneira semelhante à uma panela de pressão. Isto psicologicamente vai sendo contido, até que um dia ela pode detona-lo. Assim também pode ocorrer em situações crônicas com homens que não desenvolvem-se pessoalmente ou profissionalmente, levando-as a atingí-los fisicamente ou emocionalmente.

Raphaela Guimarães: Por que a maioria dos homens apanha calado? Toleram as agressões, fingindo até mesmo não percebê-las? Ou contam aos amigos como se fosse piada?

Luiz Cuschnir: Traçei bem o perfil de agressões que ocorrem no meu livro “A Relação Mulher & Homem – Uma história dos seus encontros e diferenças” (Ed. Campus). Característica bem masculina é a ironia quando apresentam suas angústias ou medos. Homens tendem a apresentarem-se assim, utilizando a brincadeira, fazendo piadas do que os atingem, não se sentindo confortáveis se estão mostrando suas fraquezas ou solicitações emocionais aos amigos. Na verdade, também amigos não sabem bem o que fazer quando se deparam com um homem, chorando ou arrasado, tendendo a levá-lo para um bar para “esquecer”, e nem sempre para lidar mais profundamente com o fato.

Raphaela Guimarães: A agressão quando parte da mulher, quando vem de um acúmulo de sentimentos ruins, ou de alguma agressão anterior, pode ser mais violenta, mais cruel?

Luiz Cuschnir: Não diria que é mais cruel, mas pode ser devastadora se ela atingir aspectos ligados a masculinidade do homem. Se ele pecebe que não está dirigida diretamente a ele, se é só uma projeção de outros relacionamentos, ele consegue se defender melhor. Mas se ela atinge diretamente em temas que ele não se sente seguro, ou de situações anteriores da vida dele, que ele quer esquecer ou não sabe lidar com elas, não gostaria de ser devassado por ela e pode ser atingido muito fortemente.

Raphaela Guimarães: Que faixa etária feminina é mais agressiva? As mais jovens ou mais velhas? Por que?

Luiz Cuschnir: Se as mais jovens tiverem a segurança de localizar o ponto certo deles, associada a segurança de se defenderem sem tanta baixa autoestima como mulher, podem ser muito eficientes nessa agressão. Por outro lado, muitas vezes uma mulher mais velha, por ser mais madura, pode ser mais cuidadosa, ou pelo menos mais dissimulada nesta agressão, e não ser tão direta.

Raphaela Guimarães: Existe algo de patológico no agressor? Ele pode sofrer de problemas psicológicos sérios?

Luiz Cuschnir: Como traço bem preciso o tema de agressão, como uma invasão emocional no meu último livro “Os Bastidores do Amor – Sentimentos e buscas que invadem os nossos relacionamento e como lidar com eles” (Ed. Campus), o desenvolvimento da agressão como um sequestro emocional ocorre via educação, modelos de aprendizado do amor ou carências afetivas que vão sendo estimulados por ambos. O sequetrador é alimentado pelo sequestrado e vice-versa.

Raphaela Guimarães: E que tipos de traumas uma agressão pode causar em um homem?

Luiz Cuschnir: Ele pode ficar impotente sensu-lato, tanto para a vida como para a relação com a mulher. Pode afetá-lo no desenvolvimento pessoal, profissional, social, físico, sexual. Pode também estimula-lo a tratá-la também agressivamente. Pode marcá-lo definitivamente, ou longamente e se afastar dos envolvimentos afetivos com ela e com outras mulheres.

Raphaela Guimarães: Desemprego, problemas sexuais, financeiros, filhos, quais são os principais elementos desagregadores de uma relação afetiva e que levam a agressões físicas ou psicológicas?

Luiz Cuschnir: Homens desempregados tornam-nos suceptíveis a descontroles agressivos, ou a astenias psicológicas que podem impossibilita-lo de manter-se ativo e otimista. Isto pode deflagrar na mulher uma agressividade descontrolada, seja física ou emocional. Isto pode também afetar o financeiro, que sempre será um ponto chave para a segurança masculina, que calça o referencial provedor e de suporte emocional do homem para com a mulher e família. Filhos em geral afetam emocionalmente o homem, que muitas vezes não sabe utilizar muitos recursos e manipular adequadamente situações de desajustes emocionais com filhos. Aumenta muito a angústia deles, mas não é tão coumum que sejam deflagradas situações agressivas permanentes. Podem sim ter rompantes agressivos com eles, mas depois ficam muito incomodados, com vergonha, atrapalhados com os fatos.

Raphaela Guimarães: Procurei, mas não encontrei grupos de apoio a homens que sofreram agressão doméstica. Você conhece algum?

Luiz Cuschnir: Não tenho referências a respeito. Sei que existem alguns no Canadá.

Raphaela Guimarães: O que fazer se o casal não quer se separar, mas está sofrendo com esses conflitos?

Luiz Cuschnir: Baixar as armas e procurar um atendimento psicológico com orientação dirigida a casais, como terapia de casal, onde terão possilidade de discutirem na presença de outro, elaborarem sem atingirem-se tão fortemente um ao outro.

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