Transformações masculinas

Entrevista concedida a Roberta Peixoto – A Tribuna de Vitória, ES – 23/10/2011

A Tribuna: Podemos afirmar que o papel do homem sofreu transformações ao longo dos anos? Quais foram essas mudanças e o que aconteceu?

Luiz Cuschnir: As transformações masculinas inicialmente vieram a reboque do Feminismo com a mulher se posicionando diferentemente do que ocorria nas décadas anteriores. A insatisfação e o desconforto masculino tomam lugar para surgir o que denominei na década de 80, Masculismo. Diferentemente do movimento feminista, os homens precisaram se posicionar na sociedade descobrindo o que estava instalado no seu universo emocional com os estereótipos que usavam para denominarem-se masculinos. O que antes indicava feminino como cuidar de filhos ou de sua saúde, passou a ser um comportamento absorvido e liberado para se desenvolver junto com a personalidade do homem.

A Tribuna: Como é esse homem moderno? O que ele faz, do que gosta, como age,… Quais são as suas principais características?

Luiz Cuschnir: Continua gostando dos esportes e do ambiente externo, do ar livre. Tem uma noção o mais clara da liberdade que deseja sem precisar usar fugas nem mentiras. Deixa claro o que quer da mulher e se precisar deixá-la pela insatisfação do relacionamento, o faz de uma maneira clara sem as culpas de abandonar alguém indefeso para seguir a vida. Aceita mais a cobrança social de que deve seguir uma carreira independentemente de ser a que deseja ou se sente realizado – pode mudar o seu rumo se necessário. Ampliou enormemente o rol de profissões que pode abraçar incluindo as que lhes dão mais prazer sem tanta sobrecarga do papel de provedor. Cuida mais da sua imagem pessoal como um atributo para ser exposto, deixando mais clara a sua necessidade de ser visto da melhor maneira do ponto de vista estético.

A Tribuna: O homem de hoje tem medo do quê? Quais são as maiores dificuldades masculinas?

Luiz Cuschnir: Continua tendo medo de não poder suprir a si próprio e também as pessoas que dele dependem, mas coloca valores de qualidade de vida mais prioritariamente do que antigamente. Medo de não conseguir atender às solicitações da mulher, tanto do ponto de vista sexual como da imagem de homem bem sucedido na vida. Tem medo de ser visto como incompetente do ponto de vista profissional. Medo de ser visto como medroso, procurando esconder o que não se lhe dá segurança no desempenho social. Tem dificuldade em enfrentar os momentos onde precisa argumentar sobre o porquê não está mais interessado em um relacionamento, encerrar um namoro ou casamento por exemplo.

A Tribuna: O senhor afirma em um dos seus livros que o homem vive uma crise de identidade. Por quê?

Luiz Cuschnir: A crise implica numa necessidade de transformação, mas também resulta dela. Um homem em crise está muito incomodado e não fica parado, busca saídas. A crise também se revela em mudanças de fases da vida, mas na crise de identidade ela ocorrerá de acordo com os questionamentos que faz em relação ao como se vê como homem e como quer ser.

A Tribuna: Como os homens podem se tornar mais fortes e maduros? Quais orientações podemos dar a eles?

Luiz Cuschnir: Todo trabalho psicoterapêutico visa o fortalecimento dos fatores que interferem no melhor posicionamento deles perante as outras pessoas. Com isso eles obtêm mais satisfação e realização pessoal. Homens fortes têm mais clareza do que sentem e se expressam melhor para que possam ser bem interpretados. Homens maduros toleram mais a frustração de não serem perfeitos ou os melhores em relação aos outros e lidam com isso de uma maneira inteligente e sincera.

A Tribuna: O Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher possui alguma pesquisa relacionada ao “macho moderno”? Quais são as principais constatações?

Luiz Cuschnir: O IDEN – Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher cuida das publicações dos livros e a divulgação do material que estudamos tanto na minha clínica particular há mais de 35 anos como do Gender Group® do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo do qual chefio. Vários profissionais estão envolvidos nas discussões do aprofundamento dessas questões assim como do atendimento em psicoterapia especializada nas questões de gênero e do relacionamento homem/mulher. A mais importante indica como as relações entre eles está em constante transformação e é necessário estar atento ao Nono Homem e À Nova mulher, utilizando sempre padrões contemporâneos para isso.

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