Separação Amigavel

Portal Uol – Jornalista Suzel Tunes
Entrevista concedida – 07/05/2014

O “gancho” da matéria é uma notícia, recente, de que dois atores americanos separaram-se. Eles utilizaram, para anunciar o fato, o termo “Conscious Uncoupling”, que acabou traduzido na imprensa brasileira por “Separação Consciente”. Pesquisei o termo e, mesmo na imprensa americana, não encontrei muitas referências. A ideia do casal é uma separação mais amigável, com guarda compartilhada, pelo que pude apurar até agora.
Portal Uol – Esse termo “separação consciente” ou similar é conhecido no Brasil? Ou, você percebe algum movimento, tendência ou esforço recente no sentido de buscar uma separação mais amigável?
Luiz Cuschnir – É somente mais uma terminologia para dizer a mesma coisa sobre as separações com parâmetros mais maduros e com os conflitos mais elaborados. Não existe aí que um ganha e o outro perde. Só é possível quando as pessoas têm um nível de consciência do que está ocorrendo a sua volta sem funcionar somente na esfera das emoções e impulsos. Muitas vezes encontro mulheres com mais dificuldades de abstrair as pendências e conseguir promover esta consciência. Mas também existe o egoísmo masculino que provoca a insegurança da mulher seguir sua vida apesar do marido a deixar. Por outro lado, os homens estando mais interessados no seu papel de pai, sentem-se ameaçados, ou são na realidade, e também têm enormes perdas do ponto de vista afetivo. Conseguir um equilíbrio para ambos é uma arte de relacionamento e maturidade.

Portal Uol – Separar é mais difícil do que casar? Que recursos internos a separação requer?
Luiz Cuschnir – Na separação entram fatores cruéis da realidade que ao casar ficam camuflados pelos sonhos, ilusões, romantismo que dificultam uma avaliação mais objetiva e promovem uma facilitação do enlace. Os recursos internos necessários para lidar melhor com essa separação, que muitas vezes conseguimos numa terapia de casal, são com um processo de autocrítica, um trabalho com a angústia da perda e da sensação de que a vida acaba com o rompimento do casamento.

Portal Uol – Por que algumas pessoas têm tantas dificuldades em abrir mão de um casamento, mesmo que reconheçam que ele já terminou?
Luiz Cuschnir – Muitas vezes a pessoa só consegue se ver dentro de um casamento, quando ele já se solidificou ao longo do tempo. Há uma mistura dos dois e a perda da noção de si separada do outro. Com a dependência afetiva, esta condição de casamento estrutura e oferece um projeto de vida, que fica ameaçado. Esses mitos são sustentados em base a ilusão, mesmo que o vínculo amoroso já tenha se desfeito.Também a preocupação de como o meio social encararia a questão, as fantasias (ou realidade)  da perda da relação com os filhos principalmente com os homens com a confusão do papel de pai com a existência do núcleo familiar que pode se desfazer, contribuem para essa dificuldade em separar-se. O casamento condensa-se com a família e tornam-se um só, sem conseguirem separar estas instâncias. O homem com a obrigação de ser provedor máximo, que cuida e o identifica como masculino, como foi educado, indicaria que ao separar-se estaria se eximindo das responsabilidades de uma homem. Ele se valida com a mulher e sua família. A mulher com a sua insegurança e perda das condições de subsistência, também se sente muito ameaçada com uma separação.

Portal Uol – A separação amigável só é possível quando os dois reconhecem que o casamento terminou? E quando apenas um quer se separar?
Luiz Cuschnir – É o primeiro passo que os dois aceitem que acabou o casamento entre os dois, o que não indica que acabou necessariamente o relacionamento entre eles. Uma separação amigável nessas condições, só ocorrerá quando o que não quer faze-lo trabalhe a perda e não use recursos bélicos masco que não queira se separar. É importante tolerar que perdeu, tolerando essa perda.

Portal Uol – Quais os benefícios de uma separação amigável, tanto para o casal quanto para os filhos?
Luiz Cuschnir – O primeiro é a criança não se sentir culpada pela separação dos pais, só pelo fato de não ver tanto sofrimento ou brigas entre eles. O benefício para o casal vem quando não jogam for a o que existiu e ainda existe na relação entre eles. Podem ter companheirismo, amizade apesar de não estarem casados, que implicava numa vida mais íntima juntos. Se mantiverem a credibilidade desses elementos entre eles, conseguem uma convivência mais harmônica. Com esse tipo de separação, percebe que está fazendo um bem para si, se desculpando de não ter dado certo, aceitando seus próprios defeitos. Perdoa-se ao perdoar o outro, sem implicar que haja alguém errado.

Portal Uol – Que conselhos você daria ao casal que quer manter um bom relacionamento após o divórcio?
Luiz Cuschnir – Num primeiro momento colocar a razão na frente da emoção, deixando as pendências de lado procurar uma atitude de respeito entre os dois. Não querer fazer um balanço do perder e ganhar, quem é o culpado, aceitando a finitude de historias de vida e os limites de si e do outro. Sair da rota de retaliação, zerar para o que virá daí para diante e não ficar apegado ao passado paralisante. Tratar com os princípios da diplomacia as mudanças necessárias para propiciar o surgimento de uma nova relação, agora não mais de marido/mulher, sem esses rótulo criando um novo.

 

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