Retrossexual

Concedida à editora de comportamento da revista Capricho

Bárbara Semerene: Estamos fazendo matéria sobre o “retrossexual”, mais uma das denominações criadas para o “novo homem”. O apelidamos em nossa matéria de “ogro-fofo”, o homem que tem sensibilidade, expressa seus sentimentos, mas não tem a vaidade exagerada do metrossexual. é um cara que gosta de futebol, mas faz questão de levar a namorada para assistí-lo jogando. Enfim, é uma mistura do machão com o metro. Paralelamente à abordagem principal, vamos fazer uma linha do tempo dos papéis masculinos. E é a´ que preciso de sua ajuda. Quero traçar as representações masculinas em cada época. Bem como hoje temos o metrossexual e o retrossexual, já tivemos o “brutamontes” ou o “dândi”. Gostaria que o senhor me ajudasse a fazer essa “cronoliga” do papel masculino, quais eram os modelos que estiveram entre os brutamontes até chegar ao metrossexual. Aliás, quando exatamente criou-se essa denominação “brutamontes” (em que ano, ou século)? E a partir de que ano ou década exatamente o homem começou a ficar mais sens´vel e adquirar caracter´sticas antes consideradas do feminino? Quando homem passou de “brutamontes” ao papel do homem “cortês”, que ainda não era o metrossexual?
Luiz Cuschnir: Quando escrevi o meu 1o livro (“Masculino, como ele se vê/Feminina, como o homem vê a mulher” ed. Saraiva) iniciei com um conto sobre esta polarização. Era ainda o final da década de 80 e os homens ainda nem sonhavam em se mobilizaçõa para atender as revindicações delas. Este conto tratava de um homem e uma mulher que queriam estacionar seus carrros em uma vaga que daria somente para um. Ele chamando-a de histérica e ela chamando-o de “não cavalheiro”. Resumindo a mulher que espera um cavalheiro, ou um homem que esperam uma dama, estariam associando ao gênero aspectos como carruagens, cocheiro, direitos exclusivos de liberdade ao homem etc. Enfim anacrônicos, mesmo naquela década que escrevi.

Com certeza hoje, com toda a evolução social da relação entre eles, da tranformação de conceitos de fam´lia, vida profissional, situação econômica da sociedade, indicam que não se pode esperar os mesmos comportamentos a que estas palavras cavalheiro e dama estariam representando.

Este termo brutamontes, que se refere tanto ao aspecto f´sico desenvolvido, mesmo que disforme, mas agrega a atitude social também, traz um conceito do masculino que ainda é valorizado, como um corpo que representa a força. E a mulher se sente segura com um homem forte, ou pelo menos que se pareça com alguém que vai protegê-la. Isso é claro não agrega o valor de violência necessariamente, mas esta se asssocia com uma certa dose de atividade, pró-atividade, criação, expressão. Então o conceito de brutameontes traz a falta de estruturação de atitudes, de educação, mas pode vir junto com força.

Com a educação já expandida para os dois gêneros, a formação intelectual e profissioanal desenvolvida pela e para a mulher também, o refinamento intelectual ampliou o comportamental, do dandi, do cortês, ou até da força muscular incondicional para a identificação do masculino no homem.

Dentre estes todos que você mencionou, tivemos também na década de 90 o yuppie, que foi precursor deste últimos que você mencionou.

Todo este movimento relacionado ao comportamento masculino, que denominei de “masculismo”, só apareceu aqui no Brasil na primeira metade da década de 90. Ele veio a reboque de um feminismo visto preconceituosamente como uma revolta de mulheres masculinizadas e agressivas, que também iniciou mais fortemente aqui no final década de 60. Elas provocaram, questionaram, e eles depois acabaram se manifestando, mudando suas atitudes. Falo muito disso no livro “Homens e suas máscaras – A revolução silenciosa” Ed. Campus

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