Namoros Agenciados

Revista Época – Jornalista Nathalia Bianco
Entrevista Concedida – 10/09/2014

 
Época – Falamos com três agências de encontros e uma que oferece cursos de sedução e em todos houve uma crescente no número de pessoas que se inscreveram de um ano para cá. O que pode explicar esse aumento?

Luiz Cuschnir – A liberdade que a pessoa tem de procurar esse processo de conhecimento de alguém vem da sua experiência com isso. Os que entram nesse processo, os novos inscritos, em geral recebem o estímulo de outros, que os encorajam. Com a propagação da informação de que vale a pena, que é possível, que há uma certa segurança ou discrição, alastra e os encoraja para uma tentativa. Há sempre uma ideia de que há algo que falta nele ou nela para que as coisas deem certo. A inibição ou dúvida sobre o abordar o outro é muito mais comum. Como terapeuta, encontro com muita frequência esse tema nas terapias.

Época – Até que ponto a internet, como sites e aplicativos, ajuda ou atrapalha o relacionamento amoroso entre as pessoas?

Luiz Cuschnir – Se traumatiza atrapalha. O que é traumático pode ser desde se sentir enganado, exposto de uma maneira que envergonha e a decepção após várias tentativas. Em geral ajuda quem não tem tempo suficiente para se expor em ambientes sociais onde possam conhecer alguém. Pessoas que trabalham muito, que têm uma roda restrita de amigos, inibições ou timidez, são os grandes beneficiários dessa história. Às vezes, etapas de escolha ou de rejeição são abreviadas. Podem então proteger de frustrações maiores de serem rejeitados, quando um encontro real desencanta logo de início.

Época – Nós estamos com maior dificuldade de nos relacionarmos? Estamos com maior dificuldade para começar conversar e criar laços?

Luiz Cuschnir – Já não se fala ao telefone como se falava. Tudo é por escrito. É mais fácil mandar um ícone que expresse sentimentos do que elaborar uma declaração de amor. Nem sempre chegar para conversar é aceito como poderia. Criar os laços dependem muito da disponibilidade que os dois têm de investir num relacionamento. Criar laços implica em dar tempo, dedicar-se ao vinculo amoroso. Este só se dá se houver esse contato especial e se as pessoas não se dispõe a separar um espaço privilegiado para isso, fica muito mais difícil mesmo.

Época – Uma pesquisa da Universidade da Califórnia mostrou que as novas gerações de crianças superconectadas perderam uma habilidade importante: a de identificar emoções transmitidas pelo olhar e expressão facial. Se grande parte da conquista está relacionadas a gestos e sinais visuais isso pode interferir no modo como nos relacionamos?

Luiz Cuschnir – O distanciamento do outro, do convívio, do uso dos vários sentidos, impede que haja integração do que é essa outra pessoa. Ela é vista por partes, às vezes só utilizando um ou dois canais que se comunicam. Todo mundo sabe as complicações que dá quando um espera uma resposta do outro por escrito que vem truncada e que comunica mal o que está acontecendo. Há então uma super. interpretação do que está lá resumido em alguma palavras, não se ouve o tom, a expressão facial e corporal e não há nenhuma sensação tátil envolvida. A distância física promove a falta de intimidade e gera sensações equivocadas.

 

 

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