Mulher que trabalha fora e educação dos filhos

Entrevista concedida à Revista UMA – julho/2011

Nathália Braga: Estou fazendo uma matéria sobre homens que cuidam da casa enquanto as mulheres trabalham fora e gostaria muito de entrevistá-lo. A matéria irá falar de relacionamentos felizes e bem sucedidos onde a mulher trabalhe fora e o marido cuide da casa e dos filhos. Diante disso, em sua opinião. Quais os pontos positivos e quais os negativos deste tipo de rotina? Explique cada um deles.

Luiz Cuschnir: Tudo depende de como se equilibra o casal nessa situação. Será tão positivo quanto haja o respeito pela rotina que cada um leva, incluindo a aceitação de que há uma inversão total de papéis que aparecem mais comumente. Caso contrário, podemos estar perante uma situação de frustração que gera raiva ou compaixão, nada saudável para o relacionamento. É positivo quando um consegue manter suas funções sem afetar a relação homem/mulher mantendo o masculino e o feminino nas proporções adequadas. É negativo quando se inverte de tal maneira que o homem passa a exercer a maternidade sem acessar a masculinidade e a mulher a paternidade sem acessar a sua feminilidade.

Nathália Braga: Você acredita que o homem pode manter-se nesta situação por muito tempo?

Luiz Cuschnir: O que tenho visto é depois de um tempo, o homem deprimir sentindo fracassado, principalmente quando não é a sua opção, mas a impossibilidade dele trabalhar e suprir as necessidades da família. A mulher tende a aceitar esse jogo por um tempo e depois se torna impaciente e sente falta da segurança que um homem que trabalha e produz economicamente dá a ela. Se ele depois de um tempo, quando os filhos crescem, volta a desenvolver o seu papel profissional, essa experiência deixa saldos bem positivos.

Nathália Braga: Em quais casos este tipo de rotina é aconselhável?

Luiz Cuschnir: Quando as necessidades econômicas exigem, além da impossibilidade de terem alguém para cuidar de filhos pequenos e a melhor opção é essa. Quando avaliam e percebem que há ganhos de todos, e poucas perdas devem considerar.

Nathália Braga: Qual o caminho para quem quer fazer a mesma coisa, mas acha “loucura” demais? Como saber se o casal está preparado para isso?

Luiz Cuschnir: Nada é loucura quando a única opção é essa. Encarar a realidade que para manterem ou projetarem, precisam dessa composição, aplicar a regra deve ser uma opção consciente dos dois. É muito importante que tenham claro o que estão fazendo e que a liberdade de escolha esteja de ambos os lados. Tanto abdicar de trabalhar fora quanto do cuidado dos filhos provocam incômodos. estes podem ser melhor tolerados se tiverem um prazo para terminar, ou ao menos para serem revistos com a garantia de poderem retornar a esquemas anteriores. Um trabalho psicoterapêutico do casal pode elucidar aspectos que ficam submersos e são impossíveis de se colocar abertamente um para o outro sem esse espaço protegido. Uma hora podem vir a tona de uma maneira pouco saudável.

Nathália Braga: Você acredita que esta é uma tendência daqui pra frente? Por quê?

Luiz Cuschnir: Vejo mais a tendência de um equilíbrio do tempo dedicado aos filhos. Ainda estamos muito apegados aos valores de sucesso do homem relacionado ao econômico. Os homens têm se aproximado muito e se dedicado aos filhos, sentindo-se responsáveis igualmente por eles. As mulheres estão aceitando mais delegar a eles funções que eram eminentemente suas. O que se vê mais são casais onde a mulher é mais velha e tem uma carreira mais exitosa, mas ele não deixa de lado a necessidade de se realizar profissionalmente de alguma maneira, mesmo que seja uma parte do tempo.

Nathália Braga: Por fim, em sua opinião, o que um casal precisa para se adaptar a esta nova realidade? Como fazer para este novo modelo não estragar a relação?

Luiz Cuschnir: Ele deve se manter ativo e conectado com o mundo através de notícias e relações sociais com adultos. Ela não deve se afastar do contato com os filhos e não deve esquecer que quando volta para casa, não é o “patrão”. A manutenção do masculino e do feminino correspondente precisa permanecer como linguagem do casal. Trocar essas instâncias de identidade de cada um trás reflexos indesejáveis para a relação perdurar com o contraste necessário. Claro que falamos de casais tradicionais, onde o pai de cuidar dos filhos como pai e não como uma mulher, e vice versa.

Nathália Braga: Por favor, fique à vontade para fazer considerações adicionais.

Luiz Cuschnir: A polaridade é sempre útil para dar a dimensão da diferença entre os gêneros. Filhos que têm essas noções mais bem definidas desenvolvem maneiras de lidar com as futuras relações com essa experiência.

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